Aroldo, bilhetes e o gato preto
Outro dia releu seus próprios bilhetes escritos antes, para serem entregues a uma nova versão de si mesmo
Leu, achou entendiante a mania que tinha de se deixar transparecer para o mundo
Mas um sorriso de canto de boca, junto com o suspiro de alívio de quem sabe o mar de areia que foi atravessado. Uffa
Lembrou dos mesmo velhos desejos e seus dilemas nunca resolvidos
Um pássaro cantando em casa, chamado Aroldo, bagunçando toda a cozinha ao jogar resto de frutas no chão
O pássaro solto. Sem gatos? Gatos oferecem perigo para Aroldo.
Aroldo não existe fisicamente ainda, só na imaginação de Carol desde 2004.
Aroldo não pode ficar preso em gaiola, isso é violento. Mas se Aroldo ficar solto, não poderei ter gatos. Quero um gato preto também.
Hoje sem Aroldo e sem o gato preto. Revive os diálogos da própria mente e flash do audiovisual criado pela falsa memória.
Leu os bilhetes, guardou os bilhetes, culpou o tempo, agradeceu o tempo e se pós numa rede fazendo o impulso do vai e vem, dizendo pra vida que enquanto o sol tiver programado pra chegar, a noite será espaço de espera.
Espera o sol chegar, a vida sopra nos ouvidos chamando pra dar outro passo. Cobrando um esforço para o próximo passo. Passo próximo, distante da era dos bilhetes, da poesia rabiscada e da criação de Aroldo. Perto da calculada rotina, agenda minuciosamente organizada e da desculpas dos fins de semana.
Fins de semana que renovam a falsa esperança de alteração no percurso.
Reler aqueles bilhetes mostrou cansaço, preguiça para a renovação. Fechar os olhos para os bilhetes não é covardia, aquele voz ainda dizia que viver é o seu maior ato de rebeldia, seguir o caminho é desejo ancestral, responsabilidade afetiva consigo mesmo.
Lê os bilhetes foi castigo, lembrar de Aroldo e do gato preto que nunca existiram é lembrar da menina que deixou partes por todo aquele mar de areia.
Gaiolas quebradas já!
O sol já vem de novo! Vivamos!