Aquela mãe

Estava ela toda preocupada com seu filho de oito anos que acabava de ir para a escola pela primeira vez. Ora, uma criança de oito anos indo a escola pela primeira vez? Por quê?

Bem, isso vamos explicar depois. Agora temos que pensar nessa pobre mãe que se sentiu indefesa e triste sem seu filhinho que nunca, mas nunca mesmo saio de perto dela. Ele sempre esteve ali aconchegado e guardado em seus braços como se fosse um espaço uterino na parte externa de sua mãezinha, querida e linda. Um filho. Uma mãe. O que se pode esperar dessa dupla?

O filho só existe porque há uma mãe para gerá-lo. A mãe por sua vez depende do filho para existir. Ou seja, o laço de sangue se efetua na transposição do reconhecimento mútuo entre ambos que só é possível na atuação verídica e prática da maternidade (no existir).

A amálgama da introspecção humana da mãe e do filho exorciza a incoerência da ausência de algo que só pode ser preenchido por duas partes que se complementam. O ato e o acaso se aproximam. Daí porque a mãe se encontra indefesa e triste por esse distanciamento do filho.

Ora, e por que o filho só foi a escola com oito anos de idade. Vamos responder agora:

Porque a mãe em sua fragilidade e abandono era solteira e pobre. Não tinha como levar seu filho para a escola e não sabia o que fazer para matriculá-lo. Pois era uma pobre analfabeta que precisava de ajuda emocional, financeira e psicológica. Foi expulsa de casa por seus país quando souberam de sua gravidez aos quatorze anos de idade. Passou fome, foi violentada, humilhada pela sociedade que a tornava invisível. Mas seu instinto materno não permitiu que ela fraquejasse. Lutou, pediu, se humilhou por seu filho, até que um dia, uma "alma boa" a acolheu e deu um emprego de garçonete num boteco. O quartinho no fundo do boteco, onde ela e seu filhinho puderam se cuidar. Ela aprendeu a ler com a ajuda daquela "alma boa" e começou a perceber a importância do conhecimento. Então resolveu levar seu filho para a escola....

Um pouco tarde talvez, mas nunca é tarde para o aprender e O VIVER.

Essa mãe aprendeu. Só que seu filho era tudo que tinha e que lhe deu força para continuar O VIVER. Por isso o medo de deixá-lo sozinho na escola. Mas ela sabia que precisava fazer aquilo e seu filho também. Então pela primeira vez os dois se afastaram. Pelo conhecimento.