As Pequenas Coisas
Hoje acordei com uma sensação estranha, como se o mundo estivesse mais silencioso. Talvez fosse apenas eu, enfim, disposta a escutar. Em tempos em que tudo parece correr mais rápido do que os próprios ponteiros do relógio, é raro quando conseguimos parar. E foi justamente nesse instante de pausa que percebi: minha gratidão não vinha de grandes acontecimentos, mas das pequenas coisas — aquelas que quase sempre passam despercebidas.
O calor do sol na pele enquanto caminho sem pressa pela calçada. Um raio de luz atravessando a janela e dançando nas cortinas. O sabor quase cerimonial de uma xícara de café logo cedo, quando o mundo ainda está acordando. O som da chuva, manso, marcando presença sem fazer alarde. São esses pequenos gestos da vida que pintam o quadro do meu dia, como pinceladas suaves de uma arte que só se revela para quem sabe olhar.
Não é fácil. Fomos treinados a buscar o extraordinário — a viagem dos sonhos, a conquista retumbante, os grandes marcos. Mas, às vezes, a verdadeira riqueza está no ordinário. E foi preciso um certo silêncio interno para que eu compreendesse que há beleza no trivial, e alegria no simples.
Agradeço pela sensibilidade que me permite perceber isso. Por esse filtro mais suave que, de vez em quando, coloco sobre os olhos para ver o mundo não como ele grita, mas como ele sussurra. Agradeço por notar o cheiro de terra molhada, o som do vento atravessando as folhas, o riso espontâneo de alguém que passa na rua.
No fim das contas, a vida acontece nesse intervalo entre o instante e a memória. E é nesses detalhes que, discretamente, a felicidade se instala — sem fazer alarde, mas com toda a profundidade de um presente inestimável.