ENTRE EPICURO, EPICTETO E O ABISMO DE NIETZSCHE
Nas praças digitais, onde vozes se cruzam sem se ouvir,
vivemos entre notificações e ansiedades programadas.
O mundo gira rápido demais — e a alma, coitada, tropeça.
Se Epicuro andasse entre nós, talvez diria:
"Desliga o ruído. Vai ao jardim.
Procura o prazer simples, o pão partilhado,
a sombra de uma árvore e a conversa sincera."
Mas quem pode ouvir Epicuro com o fone no ouvido
e o coração na próxima curtida?
Epicteto, de olhar sereno, atravessaria a rua do caos
com a tranquilidade de quem já renunciou ao controle.
"Não é o mundo que te fere
mas o que pensas dele."
Mas quem, hoje, se lembra de calar antes de reagir,
de respirar antes de julgar?
E Nietzsche... ah, Nietzsche gritaria entre os outdoors e os algoritmos:
"Vocês mataram Deus,
e o substituíram por seguidores e status!"
Seu martelo filosófico ecoaria nos shoppings e stories,
mas poucos o entenderiam —
chamariam de louco e o silenciariam com memes.
Vivemos num tempo em que Epicuro seria acusado de alienado,
Epicteto de passivo,
e Nietzsche de extremista.
Talvez a verdade esteja em dançar entre os três,
buscar o prazer que acalma,
a razão que aceita,
e o fogo que transforma.
Enquanto isso, seguimos
entre o jardim, o dever e o abismo
tentando não nos perder de nós mesmos.
Tião Neiva