A Vida é Uma Peleja
Não está morto quem peleia! Já dizia uma ovelha no meio de 13 cachorros famintos.
Comecei cedo ver vitórias se transformarem em derrotas, quando tinha seis anos de idade, em 1981, no inesquecível dia que enchi minha primeira vasilha de leite (uma lata de 1 litro de óleo de soja, que cabiam 900 ml), tirada de uma mansa vaca, chamada Muda-Pinta, saí tão alegre que esqueci da Canhão, uma valente vaca que estava parida no curral, o nome da infeliz dar para vocês terem noção da sua simpatia com cachorros e crianças, então com aquele largo e belo sorriso infantil, que ofertei ao meu pai, num êxtase de felicidade, por conseguir um objetivo, quase impossível de ser alcançado a altura daquela idade.
A desgraçada botou em mim, igual o diabo botou no mestre Alfredo, corri o curral inteiro com a vasilha na mão, fazendo triângulos, retângulos, losangos e "corcoviados", meus heróis e hoje, saudosos pai e tio, tomaram a frente da fera, que mais parecia o Cérbero (cão de três cabeças, que guardava a entrada do Reino de Hades), teve uma hora que quase desisti da vida, a sorte é que os meus dois salvadores me colocaram atrás deles como uma troiana muralha, e a desgraçada, com suas estratégias "Odisseianas", querendo me destroçar os ossos, naturalmente não tinha lido ainda a Divina Comédia de Dante Alighiere, mas quando li, 20 anos depois, reconheci o demônio que tinha encarnado nela. Quando tudo terminou, a lata ainda estava em minhas mãos, toda amassada, mas sem uma única gota de leite, segundo o meu pai, o único lugar que não tinha leite no meu corpo era dentro do buraco do olho. Nesse dia, mesmo cheirando a leite literalmente, apesar de já me sentir um quase adolescente, percebi duas coisas: a primeira é que a nossa destreza nem sempre acompanha a idade, e sim a nossa necessidade e a segunda é que no dia que você estiver em apuros use a arma que você tiver na mão, não importa se o leite será ou não derramado.