🌐 Foi o Rafael que falou
A timidez crônica somada com alguma criatividade não poderia deixar escapar aquela oportunidade. O vacilo alheio era a deixa perfeita para encaixar uma piada de situação, e, talvez, até a professora riria. Provavelmente, exporia o coleguinha de sala de aula ao ridículo, e eu ganharia uma certa popularidade.
No entanto, minha inesperada manifestação poderia atrair olhares curiosos. Aquele dilema era muita coisa para alguém com tão pouca idade, entretanto, era um conflito que pesava dois lados da minha personalidade, então, obrigatório para me blindar de eventuais situações embaraçosas. Eu sabia que aquilo tinha o potencial de me fazer sentir num showzinho de “stand-up comedy” no centro de um palco, com microfone e holofote em cima.
Eu compreendi que o meu talento talvez servisse apenas para ser redator daquela palhaçada. Contudo, encontrei um “voluntário” disponível e com desinibição suficiente para interpretar a pilhéria. Eu sabia que ficaria satisfeito com o reconhecimento de que a piada era muito boa e ganharia vida própria; mas, por outro lado, quem a interpretasse colheria o reconhecimento pela autoria daquela obra.
Pois bem, a timidez venceu, mas não o suficiente para eu permitir que aquela piadinha fosse desperdiçada, portanto, balbuciei o genial desfecho. Porém, um péssimo aluno ao lado, ignorando alguma reputação a zelar, disposto a ofender a todos, pronunciar impropérios e palavras de baixo calão, distribuir disparates gratuitos, portanto, sem nada a perder e estupidez de sobra, praticamente o arquétipo da escória estudantil, em voz alta, repetiu a minha anedota.
Foi um fracasso. A resposta da classe foi muito fria, como se ele tivesse dito a maior estupidez do ano letivo. Após o desastre, apenas eu, por motivo que só eu sabia, ri muito. Até o momento que ele disse à professora: “Foi o Rafael que falou”.