Quando o Amor Tem Pêlos e Quatro Patas

Acho que nós já estamos tão íntimos que vou te contar o que sonhei ontem. Mas olha lá, estou contando porque você é mais que amigo... você é parça do Caroço de Manga. Entendeu, ou quer que eu desenhe?

Sonhei com ela ontem. Acordei com saudade. Por isso tô te contando...

Ela chegou trazendo alegria e preocupações. No começo era muito tranquila — aliás, sempre foi. Depois, foi dominando os ambientes e todos os habitantes da casa, que, pra ela, já estava no nome dela, com escritura lavrada em cartório e tudo.

E assim, Julieta, nossa Shih-Tzu, mudou nossas vidas.

A escolha da pousada para um fim de semana na praia, a cadeira onde nos sentávamos, o petisco a cada ida ao supermercado (ela adorava coxinhas), o ar-condicionado do carro desligado só pra ela poder ir pendurada no retrovisor lateral, com meio metro de língua de fora, como se fizesse pouco dos outros... Aí, ó: minha família tem carro, mas quem dirige sou eu.

Tudo ela escolhia — e, com aquele jeitinho de quem manda mesmo sem falar, conseguia.

Ela falava com os olhos — e que olhos! Me achava o humano mais lindo do mundo, a companhia mais agradável e sincera.

Mesmo com a televisão ligada em programas caninos e o ventilador no último, a nossa ausência — uma única vez por mês, por algumas horas — era registrada pela falta de brilho no seu olhar.

Amigo, mas o nosso regresso... Deus do céu! Era um momento de puro êxtase.

Aos 10 anos de idade, Julieta teve que fazer uma cirurgia. Foi um período difícil para todos nós. O valor do procedimento fez minha filha pegar um empréstimo no banco para quitar todas as despesas do tratamento.

Juju, como era carinhosamente chamada, ficou ótima. Agora, acompanhada por um nutricionista, enfim conseguiu o que queria: substituiu a ração por alimentos. Tudo pesado e feito no dia.

Passei a ser, além do humano mais lindo, o cozinheiro cinco estrelas Michelin. Sempre agradável, Julieta elogiava sua refeição todos os dias:

— Delícia! Depois que comecei a comer essa batata-doce, meu intestino tá um reloginho.

Mas a nossa situação financeira foi apertando. E, infelizmente, quando Julieta precisou de ajuda médica de novo, não tínhamos mais de onde tirar dinheiro. Quando uma amiga da família nos socorreu, Juju partiu... ali mesmo, na sala da médica.

Vou te dar um conselho: esteja sempre preparado. Porque seu pet também vai levar uma parte do seu coração.

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