🔵 Maria’s Bar

Aquele não era um ambiente bom. Se o local não podia ser recomendado a adultos, menos ainda a nós, crianças. A Maria, coitada, era a proprietária do comércio etílico e a maior consumidora do estoque. Balança “honesta”, baleiro lúdico e balcão de madeira, tudo “raiz”. O boteco, se fosse hoje, seria chamado de “vintage”; mas, naquele início dos anos 80, era no estilo pingaiada.

Foi no meu aniversário, não lembro que idade, sei que eram menos de oito anos. Não sei por quê, mas o destino fez meu irmão, um amigo e eu atravessarmos a rua até o referido boteco. Alguém — acho que o amigo — resolveu falar que eu ficava mais “idoso”. Maria, àquela hora da manhã, já aditivada, mas de bom coração, anunciou: “hoje, você pode pegar o que quiser!” Eu examinei o ambiente: salgados pernoitados no óleo, alguns ovos coloridos boiando numa água turva dentro de um pote suspeito; torresmos com péssimo aspecto; uma bandeja com nacos de salsicha acebolada muito oxidados; pacotes de cigarros Vila Rica e Continental (as propagandas diziam que aquilo era legal); e, no alto, garrafas de Cinzano, Fernet, Tatuzinho, Velho Barreiro e outras bebidas. Tive certeza que nada daquilo era pra mim. Fiquei desanimado.

Foi quando veio a luz. Quis um chocolate Grand Prix e uma Coca-Cola que devia estar escondida por ali. Fiquei entre a Coca, Tatuzinho e Velho Barreiro. Tatuzinho tinha um nome simpático e um rótulo bem legal, mas odor forte, a garrafa de Velho Barreiro possuía bastante conteúdo, mas achei o nome um pouco assustador. Acho que minhas escolhas foram sensatas.

Um dia qualquer, o bar da esquina estava fechado. Lógico que eu não era frequentador, mas aquele bar fazia parte da paisagem. A Maria fazia parte da paisagem...

Rafifa
Enviado por Rafifa em 08/05/2025
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