🔵 Pague para entrar, reze para sair

Eu gostava muito de ir a parques decrépitos de bairro. Um fim de semana em Osasco, depois em Guarulhos, essas maravilhas do entretenimento barato reuniam baixa gastronomia, jogos de azar e brinquedos à beira de um desastre.

Embarcar na montanha-russa era uma prova de fé, pois a, digamos, atração não via uma manutenção há muito tempo. Os reparos do parque deviam ser feitos por mecânicos de beira de estrada, porque eram verdadeiras gambiarras. Fiação exposta, arame enferrujado, prego torto etc, tudo na base do improviso.

O ‘Trem Fantasma’ possuía uma aparência macabra só por fora. Dentro, dava dó. Cada vez que a luz acendia, causava um misto de gargalhadas e vergonha alheia. O trem era uma festa a fantasia de Halloween. Os, supostos, monstros saíam de lá desmoralizados.

O, assim chamado, ‘Chapéu Mexicano’ era o “carrossel do capeta”: um banquinho, preso por finíssimas e velhas correntes, aquilo girava vertiginosamente. Esse, perigosíssimo, brinquedo dava dois prazeres: quando começava e quando parava de girar.

No setor de jogos, não existiam sorte e azar, somente azar. A barraca de tiro era um convite para passar vergonha. Aquela pesada réplica de rifle possuía, como munição, uma levíssima rolha na ponta do cano. As garotas tinham que manter distância, afinal, aquilo era coisa pra homem. Eu, e creio que todos, fazia a mira, como se estivesse na Segunda Guerra Mundial, e disparava. O que saía da arma era uma ridícula rolha, como uma folha seca, em direção ao solo. Como prêmios: garrafa de pinga, conhaque, Cinar, Cinzano e maços de cigarros Continental. Ainda bem que, ainda criança, eu nunca levei um desses brindes. Todos os ganhadores devem ter chegado na Cracolândia quando aquilo tudo era mato.

A roda da “fortuna” era meu jogo favorito. Consistia em uma roleta, onde havia escudos de times de futebol. Se a roleta parasse no time escolhido, a grana apostada dobrava. O, por assim dizer, crupiê era sempre um malandro do Jogo do Bicho (correntinha, óculos escuros, palito na boca, andar enviesado e sotaque carioca). Lá, de fato eu ganhava, me sentindo num cassino em Las Vegas ou numa boca de jogo ilegal da Baixada Fluminense. Eu só caía na real quando gastava a bolada em refrigerante, salgadinho e bolo.

Apesar de parecer, e ser, um perigo iminente, eu nunca vi, nem soube, de um acidente nesses parques. No entanto, em parques impecáveis, acontecem até mortes.

Rafifa
Enviado por Rafifa em 13/05/2025
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