Ironias da Vida

Brasil, terra de sol escaldante e brisa incessante. Um país onde a natureza se oferece generosa, capaz de alimentar turbinas e iluminar cidades sem exigir que rios sejam mutilados ou que a terra engula sua própria destruição. No entanto, seguimos um caminho que desafia a lógica, uma rota tortuosa em que a energia limpa se torna alvo de taxas e burocracias, enquanto a exploração de petróleo recebe tapete vermelho e investimentos bilionários.

O discurso é sedutor—Brasil, potência em energia renovável! Mas a prática é outra. Hidrelétricas ainda devastam biomas, usinas nucleares avançam, enquanto parques solares e eólicos veem seus incentivos minguarem. Tudo isso sob a alegação de viabilidade econômica, enquanto os impactos ambientais fazem fila para cobrar sua conta: queimadas que pintam o céu de cinza, enchentes que transformam ruas em rios, deslizamentos que engolem vidas.

E os carros elétricos? Ah, o sonho do transporte sustentável parece distante para o brasileiro comum. Caros, inacessíveis, e com uma infraestrutura de recarga que mais lembra uma caça ao tesouro. Onde há postos, os preços da energia não colaboram, e ainda enfrentamos tributações que fazem parecer que optar pelo sustentável é um privilégio, não um direito. Como alertava Max Weber, a racionalização burocrática se torna um entrave ao progresso. E Keynes bem sabia que investimento deveria estar a serviço da sociedade—mas aqui, parece servir apenas ao lucro imediato.

O país que poderia liderar a transição energética caminha na contramão da história. Enquanto outros barateiam carros, ônibus e caminhões elétricos, nós os encarecemos, como se negar o futuro fosse uma política de estado. O petróleo na Foz do Amazonas—uma afronta à natureza—ganha investimentos, enquanto a energia limpa enfrenta obstáculos dignos de um romance kafkiano.

A pergunta que fica é: quando despertaremos para o óbvio? Quando entenderemos que investir no sol e no vento não é utopia, mas uma necessidade urgente? O tempo corre e, como alertava Sartre, estamos condenados à liberdade—à escolha consciente de nossos destinos. Que escolha faremos?