O engano
Foi num dia qualquer, sem grande brisa,
Que te vi, entre um riso e uma promessa.
Eras leve, como o vento que desliza,
E eu, torpe, quis fazer de ti peça.
Acreditei na voz que não era tua,
Deixei que a dúvida cravasse garras,
E fiz do amor, que surgia na rua,
Apenas um monte de palavras raras.
Depois, sem fé, voltei ao teu corpo,
Já sem lembrança do que era inteiro.
Fiz de tua entrega um porto torto,
E de mim, um homem sem paradeiro.
Agora, te vejo, ainda no mesmo cais,
O olhar perdido em noites frias.
E me pergunto, em sombras e ais,
Se fôssemos outros, que amor terias?