Quando não cabe mais, é hora de ir
A novidade tem um quê de brilho nos olhos. Um novo trabalho. Uma amizade que começa devagarinho. Aquela roupa que parece mudar o corpo e o dia. O endereço desconhecido que desperta curiosidade. O carro que ainda não tem cheiro de rotina.
Gosto dessa sensação de começo. Do frescor. Do imprevisível que faz cócegas. Mas há outro tipo de novo que não é festa — é necessidade. Ele chega quando o lugar onde a gente está começa a apertar, quando já não faz mais sentido ficar.
Esse novo não se experimenta. Não vem com aviso nem manual. A gente só descobre atravessando.
E eu tenho sentido esse chamado. Não um grito, mas um incômodo quieto, insistente. Algo em mim dizendo que não dá mais pra adiar. Que seguir em frente não é mais escolha, é impulso vital.
É estranho não saber exatamente o que vem depois. Mas tem algo bonito em se permitir descobrir.
E talvez seja isso: às vezes, a gente só precisa aceitar que já não cabe mais onde está. E se movimentar. Com dúvidas, sim. Mas com vontade de viver o que ainda nem sabe o nome.