Dizem que o coração é o porão de todos os nossos sentimentos, acreditamos. Uma bobagem romântica que empurra o cérebro para o estômago. Mas é gostoso pensar que deixamos as razões para o cérebro e as emoções para o coração. Uma extravagância poética. Por implicação, imagino o meu coração trancafiado atrás dos meus ossos, engaiolado e piando sobre o mundo lá fora. Empoleirado sobre ossos farpados pelo tempo, remendados pela fragilidade corpórea.
Uma ave que me incomoda um tanto de desespero e choro, também alegria. Não consegue emudecer os sentimentos e está sempre beirando suas tragédias e cantando-as a plenos pulmões.
Com o passar do tempo eu aprendi muito pouca coisa. Isso porque o pássaro quer reinar acima do cérebro, absoluto na cerca de ossos. Não voa, não sai de mim mas impera irracional e a tudo contempla em intensidade insuportável. Quase enlouqueço de mim. Todo dia é uma batalha em que travo à frente do espelho. Eu sinto demais e a cada dia mais por causa deste coração alado que me governa. Um dia ele terá a vida, o piado e as asas silenciados de maneira definitiva, como em tudo que é vivo (o fim). Mas até lá ele me consome, provoca, dilacera e sempre que o meu cérebro busca uma zona de conforto, ah! Ele enlouquece e me fere aos gritos.
Quem mais?