O Lugar ao Qual Se Volta
Há lugares que a alma visita como quem pisa num espelho antigo: procurando um reflexo, mas encontrando outra coisa.
Voltei.
As mesmas ruas, os mesmos ventos, a mesma curva da tarde encostada no horizonte.
Mas algo estava diferente — e não era só a luz. Talvez fosse eu.
Ou talvez o tempo tenha feito do lugar um sussurro mais baixo, como se não quisesse mais ser lembrado alto demais.
Volto ao mesmo chão,
mas a brisa não me toca
como da outra vez.
As janelas ainda estão ali, mas o que vejo nelas agora é outro mundo.
A pedra que me fazia tropeçar parece menor.
Ou será que aprendi a caminhar com mais leveza?
Lugar conhecido —
a alma volta mais velha,
tudo é diferente.
Há algo de mágico e cruel em retornar.
É como abrir um livro que se leu na juventude: as palavras não mudaram, mas nós mudamos —
e agora elas dizem outras coisas.
Piso no passado.
A pedra está no mesmo chão,
mas meu pé mudou.
E então entendo: o lugar ao qual se volta nunca é o mesmo
porque o tempo não perdoa nem mesmo o que é feito de pedra,
e o coração que retorna já é feito de outras águas,
outros ventos, outros silêncios.
No fundo, talvez não haja retorno.
Há apenas reencontro:
com um rastro que deixamos,
com uma ausência que ainda pulsa,
com o eco de quem fomos um dia.
E seguir…
é aceitar esse mistério.
Voltei. Mas o lugar mudou — ou fui eu?