O Lugar ao Qual Se Volta

 

Há lugares que a alma visita como quem pisa num espelho antigo: procurando um reflexo, mas encontrando outra coisa.

 

Voltei.

 

As mesmas ruas, os mesmos ventos, a mesma curva da tarde encostada no horizonte.

Mas algo estava diferente — e não era só a luz. Talvez fosse eu.

Ou talvez o tempo tenha feito do lugar um sussurro mais baixo, como se não quisesse mais ser lembrado alto demais.

 

Volto ao mesmo chão,

mas a brisa não me toca

como da outra vez.

 

As janelas ainda estão ali, mas o que vejo nelas agora é outro mundo.

A pedra que me fazia tropeçar parece menor.

Ou será que aprendi a caminhar com mais leveza?

 

Lugar conhecido —

a alma volta mais velha,

tudo é diferente.

 

Há algo de mágico e cruel em retornar.

É como abrir um livro que se leu na juventude: as palavras não mudaram, mas nós mudamos —

e agora elas dizem outras coisas.

 

Piso no passado.

A pedra está no mesmo chão,

mas meu pé mudou.

 

E então entendo: o lugar ao qual se volta nunca é o mesmo

porque o tempo não perdoa nem mesmo o que é feito de pedra,

e o coração que retorna já é feito de outras águas,

outros ventos, outros silêncios.

 

No fundo, talvez não haja retorno.

Há apenas reencontro:

com um rastro que deixamos,

com uma ausência que ainda pulsa,

com o eco de quem fomos um dia.

 

E seguir…

é aceitar esse mistério.

 

Voltei. Mas o lugar mudou — ou fui eu?

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 09/06/2025
Código do texto: T8353461
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