A SEDUÇÃO COMO TROFÉU

Capítulo 1: Introdução - O Amor Não É um Prêmio

Amor não é prêmio”, já dizia Clarice Lispector. Essa frase sugere que o amor verdadeiro não deve ser encarado como uma recompensa por mérito, esforço ou merecimento. Diferente de uma competição onde se conquista um troféu, o amor não é algo que se recebe simplesmente por agradar ou por seguir um conjunto de regras. Ele acontece de maneira espontânea, como um sentimento autêntico, e não como um pagamento por boas ações ou dedicação.

 

Capítulo 2: A Conquista e a Sedução

Da mesma forma, a conquista e a sedução também não são prêmios. Elas fazem parte do amor – ou, ao menos, de certas formas de amor. Esse tema é profundamente analisado por Stendhal em Do Amor, onde ele identifica quatro tipos principais de amor:

 

Amor-paixão – Arrebatador e idealizado, caracterizado pela entrega absoluta e pelo sofrimento amoroso. É o tipo de amor que consome a pessoa e pode levá-la a atitudes extremas.

 

Amor-físico – Baseado na atração corporal e no desejo sexual, sem necessariamente envolver sentimentos profundos ou compromisso.

 

Amor-vaidade – Motivado pela necessidade de conquistar e ser admirado, mais ligado ao orgulho do que ao afeto verdadeiro.

 

Amor-gosto – Um amor mais racional e equilibrado, onde há afinidade intelectual, prazer na companhia do outro e uma escolha consciente.

 

Dentro da teoria de Stendhal, a sedução e a conquista podem ser tanto expressões do amor-paixão, quando nascem de um desejo intenso e idealizado, quanto do amor-vaidade, quando são apenas um jogo de ego e prestígio social. Isso mostra que nem sempre conquistar alguém significa alcançar o verdadeiro amor, pois esse sentimento vai além da mera vitória na sedução.

 

Capítulo 3: A Raridade da Conquista

Mas se há algo prazeroso no processo da conquista e da sedução, na minha opinião, não está atrelado à dificuldade do processo, mas à inusitada raridade da pessoa. Quando nos deparamos com alguém único, algo que se destaca na multidão, isso por si só já torna o ato de conquistá-la uma experiência única e prazerosa. A atração está na singularidade do outro, no que ele tem de raro, e não necessariamente na dificuldade em alcançá-lo.

 

Capítulo 4: O Foco em Si Mesmo

Eu, por exemplo, quando quero encantar, conquistar ou seduzir alguém (como queiram chamar), não me concentro na pessoa, pois seus sentimentos são algo que não posso controlar – são um fator externo. Em vez disso, o foco está em mim mesmo: no que posso mostrar de minhas próprias qualidades, de maneira autêntica, que me diferencie dos outros. O objetivo, então, é justamente fazer com que minha presença pareça única, de modo que os outros, por comparação, pareçam banais ou comuns.

 

Capítulo 5: O Valor do Autoconhecimento

Cultivar-se nunca é demais. Esse é um investimento que sempre estará com você, que permanecerá mesmo que o amor passe ou que a conquista não se concretize. Ao contrário, focar exclusivamente no outro é um grande erro. Quando nos esquecemos de nutrir a nossa própria essência, deixamos de ser interessantes e autênticos, tornando-nos dependentes do desejo ou da aprovação alheia.

 

O verdadeiro encantamento vem da confiança em si, de se destacar pela autenticidade, não pela manipulação dos sentimentos dos outros. Quando você se conhece e se cultiva, as conquistas se tornam consequências naturais, e não uma obsessão.

 

Capítulo 6: A Incerteza das Intenções

Uma frase ilustra bem essa ideia de que não temos controle total sobre nossas ações nem sobre como elas serão percebidas pelos outros. Nossos gestos, palavras e até textos podem ter efeitos inesperados. Isso é expresso de forma marcante por Elis Regina, quando disse: “Eu dou o tiro, mas quem mata é Deus.”

 

Essa frase reflete a noção de que, embora possamos agir com intenção, o impacto final escapa ao nosso controle. Elis Regina, uma das maiores intérpretes da música brasileira, era conhecida por sua intensidade e entrega emocional ao cantar. Sua interpretação das músicas ia além da técnica, carregando uma força visceral que ressoava profundamente no público.

 

Ao dizer essa frase, ela sugeria que sua performance era apenas o disparo inicial – a emoção despertada na plateia, o impacto da música na vida das pessoas, isso já não dependia mais dela. Assim como na arte, na vida também somos responsáveis por nossas ações, mas os desdobramentos muitas vezes fogem ao nosso domínio.

 

Capítulo 7: A Complexidade da Comunicação

Ou como diz Alejandro Jodorowsky, segundo li na descrição de perfil da Luciana Franklin, aqui do RL, “Entre o que eu penso, o que quero dizer, o que digo e o que você ouve, o que você quer ouvir e o que você acha que entendeu, há um abismo”, reflete a complexidade e as falhas inevitáveis da comunicação humana.

 

Ela sugere que, entre a intenção original de quem fala e a compreensão final de quem escuta, há uma série de desvios e distorções. Isso ocorre porque a comunicação não é apenas um processo objetivo de transmissão de informações, mas um fenômeno subjetivo, onde inúmeros fatores interferem na mensagem.

 

Quando pensamos em algo, já há um filtro interno que define o que escolhemos expressar. Depois, ao verbalizar, limitamos nosso pensamento à estrutura da linguagem, que pode ser ambígua ou imprecisa. O ouvinte, por sua vez, não capta apenas as palavras ditas, mas as interpreta com base em suas próprias referências, emoções e expectativas. Muitas vezes, ele escuta o que deseja ouvir, e não necessariamente o que foi dito.

 

Esse “abismo” na comunicação pode gerar mal-entendidos, frustrações e até conflitos, pois cada pessoa projeta suas próprias vivências no discurso do outro. É por isso que, mesmo em diálogos aparentemente simples, a verdadeira compreensão mútua é rara e exige empatia, atenção e disposição para interpretar além das palavras.

 

Capítulo 8: Atitudes Impulsivas e Seus Efeitos

Às vezes, tomamos atitudes instintivas por impulso, sem reflexão, ou até mesmo de forma consciente, esperando um determinado objetivo, mas o resultado acaba sendo o oposto. No romance O Vermelho e o Negro, brilhante obra do escritor francês Stendhal, ao ser preterido por seu amor, Mathilde de La Mole, o protagonista Julien Sorel inesperadamente saca uma espada, num gesto impetuoso e apaixonado, como se estivesse prestes a matá-la.

 

Movido por raiva e ciúmes, Julien age por instinto, mas o efeito desse momento é surpreendente: em vez de se afastar ou temê-lo, Mathilde fica ainda mais fascinada por ele. Para ela, esse ato não foi apenas um arroubo de violência, mas sim uma prova de paixão avassaladora. Seu imaginário romântico e aristocrático a levou a interpretar o gesto como um sacrifício heroico, algo digno das histórias de amor trágico que a inspiravam.

 

E quem leu o romance até o final sabe que Mathilde é uma mulher intensa, que se guia por grandes gestos e simbolismos. Sua visão do amor foi profundamente influenciada pela história de sua própria avó, que, tomada pela paixão e pelo luto, chegou a carregar a cabeça decepada de seu amante até o túmulo, um ato que se tornou uma espécie de ideal romântico para Mathilde.

 

Capítulo 9: Exemplos da Vida Real

Mas, saindo da teoria e da literatura e indo para exemplos clássicos, há uma menina no meu trabalho, de 19 anos, que é lésbica e namora outra jovem também muito bonita. Apesar disso, elas são fisicamente bem diferentes. A mais nova tem um estilo despojado, veste roupas largas e masculinas, mas, ainda assim, é muito bonita. Raramente usa o cabelo solto, mas, quando solta, é possível ver o auge da sua beleza – loira, com uma aparência que lembra Avril Lavigne.

 

Já a namorada dela tem um corpo mais para chubby, mas não exatamente cheinha. Ela é mais feminina, tem um cabelo enrolado lindo e é bissexual. De fato, ambas são belas e atraentes, mas a mais nova, por sua raridade, me chamou mais atenção. Ela trabalhou comigo por uma semana, e nos dávamos bem. Era desbocada, falava muito palavrão e, certa vez, soltou alguma obscenidade – não com intenção sexual, mas porque era simplesmente seu jeito natural de falar.

 

Na minha cabeça, pensei que, se trabalhássemos juntos por mais tempo, acabaria ficando com ela de forma orgânica e natural, mesmo ela sendo lésbica. Isso não é pedantismo ou excesso de confiança, mas uma questão de oportunidade. Se tivéssemos seis horas diárias, de segunda a sexta, eu teria tempo para cativá-la, para mostrar como sou diferente dos outros homens. Demonstraria minha educação, meu cavalheirismo, minha elegância e o modo como sei tratar uma mulher. E, por mais que ela fosse lésbica, ainda assim era mulher.

 

No fundo, toda mulher, independentemente de sua orientação, sabe reconhecer o que é belo. Mesmo que seja mais despojada ou vulgar, ainda assim pode perceber poesia em um gesto nobre. E todas, de forma inconsciente, gostam de ser tratadas como uma dama. Com tempo e convivência, eu tinha confiança de que a atração surgiria – e eu sei cativar quando quero.

 

No entanto, por amor, ela preferiu trabalhar no setor da namorada, obviamente para ficar perto dela. Não tive tempo suficiente.

 

Mas tive uma prova de que, mesmo lésbica, ela sabia reconhecer o belo. Um dia, fui ao curso usando um blazer muito bem cortado e uma camisa polo, o que me deu um visual social-casual chique. Assim que cheguei, as duas trocaram um olhar cúmplice, um breve gesto que denunciava sua aprovação em relação à minha aparência. Além disso, a namorada dela, mesmo sendo lésbica, sempre comenta sobre como sou elegante.

 

Eu sempre as tratei muito bem. Mas, inconscientemente, há um diabinho dentro de mim que me diz que, caso as duas se interessassem em experimentar algo diferente na relação – se é que me entendem –, eu seria um ótimo candidato. Se um dia sentissem falta de algo que apenas o sexo masculino pode oferecer, e que elas não têm, mas eu tenho – e, devo dizer, em demasia –, poderia acontecer. Seria o ménage perfeito, um dos poucos que eu aprovaria.

 

Capítulo 10: A Experiência nas Redes Sociais

Agora, uma confissão: minha única experiência com duas mulheres começou de forma semelhante, mas pelas redes sociais.

 

Na época, usei um aplicativo (que já não utilizo mais) e conheci uma menina bem lésbica, apesar de bonita. Ela tinha um estilo tomboy, também loira, e namorava uma garota extremamente feminina e muito bonita. Para encurtar a história, depois de algumas conversas, motivadas por euforia e libido aumentada por entorpecentes, o papo começou a tomar um rumo mais sexual.

 

Em meio à conversa, ela fez uma revelação inesperada: se conhecesse o cara certo, ela se apaixonaria e deixaria de ser lésbica, pois, segundo ela, sua orientação só havia lhe trazido problemas. Conforme o clima esquentava, ela me mandou nudes – e, como manda o cavalheirismo, tive que retribuir.

 

Em determinado momento, mencionei que nunca havia namorado antes. Ao ver a foto que enviei, sua reação foi imediata: “Com um p*u desses, e você tem coragem de dizer que nunca namorou?” Depois disso, ela começou a descrever detalhadamente tudo o que faria comigo caso nos encontrássemos.

 

Eu tinha essa conversa e as fotos guardadas, mas acabei apagando tudo por respeito a alguém especial que me motivou a entrar no RL. No entanto, a verdade é que, pessoalmente, ela cumpriu exatamente tudo o que prometeu. E não apenas ela – sua namorada também.

 

Capítulo 11: A Sedução Como Troféu

Acredito que, quando se trata de casos inusitados como esse, com mulheres raras, a sedução pode sim ser um troféu, algo além da simples conquista.

 

Há uma passagem semelhante no filme O Homem que Amava as Mulheres, de François Truffaut, onde o protagonista, depois de muita insistência e estratégia, consegue levar duas mulheres para a cama.

 

A sedução, quando vista como um troféu, não deve ser confundida com uma mera validação externa ou uma competição vazia. Ela é, antes de tudo, uma afirmação da individualidade e do poder de atração que cada um possui.

 

Capítulo 12: Conclusão - O Verdadeiro Jogo da Conquista

No fim das contas, o verdadeiro jogo da conquista não está apenas no outro, mas na capacidade de despertar interesse sem perder a própria essência. Seja pela raridade da pessoa desejada, pela química inesperada ou pela quebra de padrões estabelecidos, a sedução pode, sim, ser um triunfo – não sobre os outros, mas sobre o acaso, o destino e as possibilidades da vida.

 

 

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 04/02/2025
Reeditado em 04/02/2025
Código do texto: T8257163
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