CASCAIS

De julho de 99 a abril de 2000 eu morei em um lindo apartamento na Playa de Samil, em Vigo, na Galícia, Espanha.

Foi um período mágico que eu e meu Neguinho definimos como "Nosso tempo de carruagem" porque estávamos o tempo todo lembrando um ao outro e a nós mesmos de que logo voltaríamos a "ser abóbora".

A Galícia fica muito perto de Portugal, tanto que muitas vezes, por acordarmos tarde e tudo estar fechado por causa da "siesta", atravessar Minho , passar por Caminha e almoçar em Valença, Portugal. Uma cidade deliciosa com ruínas romanas onde comíamos um delicioso bacalhau servido por um senhor que se apresentava como "Arlindo, ao seu dispor!". Uma simpatia acima de qualquer crítica.

Enfim... Nesse tempo fomos a muitos lugares maravilhosos de Portugal, alguns deles mais de uma vez: Lisboa, Porto, Coimbra, Óbidos, Sintra, Tomar...

E um dia, no caminho entre Porto e Lisboa, estávamos decidindo onde ir.

Meu Neguinho sugeriu conhecer Cascais e eu simplesmente não queria.

Para mim, dentro da minha lógica, que até hoje não sei se faz sentido, a praia de Vigo já é uma maravilha mais do que suficiente e o Brasil tem praias incríveis o suficiente para não pensar que outra praia valha mais do que qualquer outra maravilha que só existe naquele lado do oceano.

Fiz malabarismos argumentativos, usei toda minha capacidade de "escavar" e inventar subterfúgios (incluindo uma "sensação" de que ia chover) para convencer meu Neguinho de que passar o dia em Lisboa seria muito melhor do que ir a uma praia de ricos.

Venci e foi um dia maravilhoso em que, entre outras coisas notáveis, encontramos um senhor português que conversou muito com a gente e, em nome de todos os portugueses, pediu desculpas a nós, que naquele momento representávamos nosso país, por toda a violência e saque que Portugal fez ao Brasil.

Foi um dia memorável... e nunca fui a Cascais.