Peitos&Despeitos

Confesso que sou de origem pobre, mas depois de fazer o curso técnico e pôr os pés na faculdade, conquistei empregos e salários dignos da tal “classe média ascendente”, inclusive adquiri alguns de seus vícios.

Descobri que são medrosos, têm medo de tudo: mendigos, pobres e, pretos como eu. Apesar disso me encaixei mais ou menos na nova classe ao ponto de descobrir seus dilemas de pobres que se confundem ricos, aos olhos dos miseráveis e, por isso mesmo, se esmeram para se parecer cada vez mais com seu mito paradigmático da primeira classe.

As mulheres, longe de mim sentimentos misóginos, são as mais aplicadas na tarefa de se enfeitar. Começam com os cremes milagrosos para alisar pele e cabelos nos salões do bairro, manter silhuetas esguias na academia da esquina, mas logo já estão indo longe, em busca de uma esteticista milagrosa que se diga capaz de rejuvenescer corpo e alma, numa incessante busca pela panaceia escondida em algum espírito ancestral.

A cirurgia plástica vai se tornando procedimento obrigatório para algumas; os preços são encarados sem medo, desde que caibam no próprio cartão de crédito, no da amiga, no do “maridão” ou, às vezes, em todos eles somados.

As que trabalham na TV, fazem parte da classe resplandecente; suas imagens valem mais que currículos acadêmicos. Essas certamente são clientes assíduas nas clínicas plásticas que prometem manutenção ou resgate da autoestima que se vai com o tempo.

Não sendo possível uma recauchutagem geral, uma intervenção na “comissão de frente” precisa acontecer, ao menos para dar “aquela levantadinha nos seios”; na verdade são mamas ou peitos. São elas mesmas, que na hora de analisar os atos da primeira-dama, trazem críticas tão ácidas que corroem ossos.

As lindas apresentadoras são, portanto, “peitadas”, mas suas falas se assemelham à das despeitadas.