MEU TIO E OS BEATLES

MAURÍCIO MARZULLO E OS BEATLES

Nelson Marzullo Tangerini

Ouvindo, um dia desses, a canção Let it be, de Paul McCartney, percebi uma grande semelhança entre a bela canção dos Beatles e o soneto Minha mãe, de meu tio Maurício Marzullo.

Embora Let it be [Deixa estar] tenha o crédito Lennon & McCartney, a canção foi inteiramente escrita por Sir James Paul McCartney. John e Paul já falaram sobre isto à imprensa. Não é invenção minha. Um dava parceria ao outro, mesmo que escrevessem sozinhos algumas canções.

Não houve plágio – lógico! - de ambas as partes. Ouve uma confluência de pensamentos: McCartney e Marzullo falam da imagem de suas mães – Mary e Antônia Marzullo, respectivamente - que os visitam nos momentos mais difíceis de suas vidas.

Vejamos:

DEIXA ESTAR

Quando eu me encontro em momentos difíceis

Minha mãe Mary vem até mim

Sussurrando palavras de sabedoria, deixa estar

E em minhas horas de trevas

Ela está de pé em frente a mim

Falando palavras de sabedoria, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar

Sussurrando palavras de sabedoria, deixa estar.

E quando as pessoas de coração partido

Vivendo no mundo concordam,

Haverá uma resposta, deixa estar.

Ainda que elas possam estar partidas

Haverá ainda uma chance que eles verão.

Haverá uma resposta, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar

Deixa estar, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar.

Haverá uma resposta, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar

Sussurra palavras de sabedoria, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar.

Sussurra palavras de sabedoria, deixa estar.

E quando a noite é nublada,

Há ainda uma luz que cintila em mim,

Cintila até amanhã, deixa estar.

Eu acordo para o som da música.

Mãe Mary vem a mim

Falando palavras de sabedoria, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar.

Haverá ainda uma resposta, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar.

Deixa estar, deixa estar.

Sussurre palavras de sabedoria, deixa estar.

...

MINHA MÃE

À minha mãe, Antônia Marzullo

Quando, nostálgico, a rezar me ponho,

Elevando a Jesus a minha prece,

Como se fosse tudo um grande sonho,

A minha mãe querida me aparece.

E, ao vê-la tão divina, eu me transponho,

Da tristeza mal-sã, que me embrutece

O coração, para um viver risonho,

Que em seguida, porém, desaparece...

E as minhas orações tão comovidas

Transformam-se, por encanto, as nossas vidas

Numa existência bela, sacrossanta,

Pois que eu enquanto rezo me debruço

Ante teus pés, ó mãe, e num soluço,

Proclamo que sou filho duma santa!.

Paul McCartney perdeu sua mãe, Mary, aos 9 anos de idade; Maurício, Antônia, aos 54.

Ambos escreveram sobre a possibilidade de suas mães estarem com eles nos momentos difíceis por que passaram.

Carlos Drummond de Andrade, disse, numa poesia, certa vez, que se ele fosse o Rei do Mundo, baixava um decreto: Mãe não morreria nunca. Mas elas se vão, viram estrelas, e seus brilhos nos levam a escrever canções, poesias – e esta crônica.

[Esta crônica é dedicada à minha mãe, Dinah Marzullo Tangerini, que tem me ajudado em momentos muito difíceis]

Nelson Marzullo Tangerini, 53 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 22/06/2008
Código do texto: T1045445