Bem ali, do alto daquele edifício...

Certa vez, observava alguns seres humanos devidamente comportados, estava eu ali, estático, apenas observando e criando mirabolantes explicações para justificar aquele comportamento tão ensaiado, pareciam formigas operárias num bom e corriqueiro dia de labuta, a única diferença era que não havia nenhuma formiga rainha... Aquela correria intensa parecia não visar agradar a ninguém, pelo contrário, já estava começando a me tirar do sério...

Depois de algum tempo parado ali, tive a incerteza de não estar no lugar certo, passei a temer as próximas horas, pois a situação ao meu redor estava cada vez mais estranha, de início, alguns cidadãos ainda olhavam para mim, mas agora, nem isso elas faziam mais, havia certa violência nos passos daquelas pessoas, andavam fugazmente pela calçada sem ao menos se preocupar... Ou talvez estavam eram preocupados demais para se importar comigo...

De repente, uma calmaria fora do comum pairou sobre aquele lugar, como se uma bomba atômica tivesse explodido ali naquele instante e incinerado a todos num segundo. Com o passar das horas, o vento frio balizava entre meu corpo, que reclinado sobre aquele parapeito frio, balançava, ameaçava se lançar lá do alto, mas a vontade de chamar a atenção era maior, e no entanto já não havia mais ninguém por ali... O jeito era esperar o outro dia...

E tem sido assim todos os dias, desde a primeira vez. Tudo aquilo que sentira naquela noite, acabara se tornando um vício. Passei a ansiar pelo fim do expediente, só pra poder me elevar acima de tudo e poder ver o quão maravilhoso é a correria dos mortais após um cansativo dia de trabalho. E pra completar a minha dose de excentricidade, ao fim da graciosa remição ao lar daquelas criaturas previsíveis, reclinava-me sobre o mesmo parapeito frio de todos os inícios de noite, escutava o silêncio me dizendo que eu era o maior, e talvez por isso, eu jamais tenha tido a coragem para me lançar lá do alto.

Eu já não me importava mais em chamar a atenção, estava ocupado demais tentando ouvir os elogios que o vento soprava aos meus ouvidos. Tinha finalmente me desligado do mundo a minha volta,bem ali, do alto daquele prédio, onde escutava o que realmente queria ouvir, bem ali, onde um dia eu quis deixar de existir, e que hoje tem sido a única e real razão da minha existência...

Vifrett
Enviado por Vifrett em 11/07/2008
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