Perdas

Uma das coisas mais difíceis para nós seres humanos são as chamadas “perdas”.

Perdem-se os dentes, os cabelos, perde-se o juízo, a paciência, o horário, o (a) namorado (a), perde-se o tempo (e principalmente ele). Perdemos coisas que nem sabíamos que tínhamos, até perdê-las, claro. E aí sentiremos uma falta tremenda de tal coisa só porque já não mais a possuímos. Perder é o nosso calcanhar de Aquiles. Tudo na vida, menos perder algo, seja lá o que for.

Ficamos com um vazio tão grande, que o mundo parece pequeno para que possamos achar a solução do problema.

Muitas vezes, nem nos damos conta, que perder significa, em inúmeros casos, ganhar, tão obstinados estamos em pensar que ficaremos sem algo que há pouco tínhamos sob nosso domínio.

Isso, é claro, existe principalmente por termos em nossa constituição emocional um ingrediente chamado “egoísmo”. Ele quer tudo, ele quer o que falta, quer o que sobra, quer tudo que seus olhos puderem alcançar, mesmo que não vá lhe servir de nada, e mesmo que essa perda venha a lhe trazer, talvez não imediatamente, muitas outras vantagens. O futuro é uma dúvida, e na dúvida, melhor garantir.

O mais impressionante é que a maioria das pessoas, mesmo depois de muita experiência, não consegue se livrar do incômodo dessa sensação, a sensação de ficar sem aquilo que lhe pertence (o que nem sempre é verdade, pessoas, por exemplo, não nos pertencem, mesmo que assim nos sintamos em relação a elas) e passam seu tempo contabilizando seu patrimônio (pessoas, objetos, imóveis, sentimentos, relacionamentos, etc.).

A nossa vida ficaria bem mais interessante se aprendêssemos a fazer trocas, “negociar” nossas perdas, mesmo porque, sempre que perdemos alguma coisa, ganhamos outra, o problema é que a única coisa que não nos incomodamos de perder é a visão do que poderá estar nos esperando de bom e ficamos nos preocupando em sofrer.

“Vão-se os anéis, ficam os dedos”, a frase é comodista, mas, se ficam os dedos por que não colocar neles outros anéis. A opção é nossa.