"Dia dos Pais" ou "Tristeza de Um Filho Distante" =Crônica=

No Dia dos Pais sempre me lembro de uma crônica que li em uma revista da “Sadia”, escrita por um alto executivo da empresa, na qual ele elogiava ardorosamente seu velho progenitor e imputava-lhe as boas qualidades que lhe transmitira -todas-: os bons exemplos de honestidade, integridade, sinceridade, coerência e outros belos adjetivos. Um pai exemplar. Um pai maravilhoso. Um pai inesquecível e que merecia toda a atenção e todo o carinho do mundo. A crônica terminava com um lamento do filho: havia dez anos que o pobre coitado não via seu amado pai por um motivo fortíssimo, um motivo até mesmo emocionante: ele, o filho, morava no Rio de Janeiro e o boníssimo pai no interior de São Paulo!! Meu Deus! Que coisa triste...Que motivo terrível...Coitado do filho...

Depois que li a crônica, meio emocionado, fiquei pensando nas dificuldades que o amoroso filho teria para rever seu bom papai. O quanto seria duro, desgastante, perigoso, enfrentar os milhares e milhares de quilômetros sob a neve que tanto cai sobre nosso país, enfrentar os cangaceiros que infestam a região, lutar contra os guerrilheiros, escapar das minas subterrâneas do percurso Rio-São Paulo. Ou, o pior de tudo, ter que enfrentar horas e horas de vôo no “14 Bis- Airlanes” da ponte-aérea.

Seria lindo o encontro dos dois dez anos depois da separação. Posso até imaginar:

- Papai, estou aqui!!

- Filho!! Você veio lá do Rio de Janeiro??? Fez essa viagem toda só pra ver seu pai, filho querido??

- Sim, papai. O senhor nem imagina tudo que passei pra chegar até aqui, papai. Mas o pior de tudo, papai, foi tirar de meu salário o preço dessa aventura. Acho que já lhe contei por carta que ganho menos de R$ 35.000,00 por mês, uma tremenda injustiça. Mas, para vê-lo, papai querido, qualquer esforço vale a pena. Mais um abraço, papai, que já está na hora de voltar pro Rio. Tenho uma reunião importante. Vim só lhe desejar um feliz Dia dos Pais. Na próxima vez lhe trarei um bom presente.

- Tchau, filho. Até a próxima. Vê se não some...

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 10/08/2008
Código do texto: T1121702
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