AH! QUE SAUDADES EU TENHO!

Naquela época, as noites paulistanas eram tranquilas e não havia os perigos que hoje existem em cada canto, a cada esquina por que passamos. Medo era só de baratas e ratos... Coisa de mulher. Nada desse medo de morrer pela violência que grassa atualmente na cidade. Naquela época havia romantismo, respeito, amor próprio... Cavalheirismo era a tônica principal do homem. E a mulher só usava calças compridas em casos excepcionais!

Vivi num tempo em que mulher se vestia de mulher. E homem honrava as calças que usava... NÃO ME ENTENDAM MAL! NÃO TENHO PRECONCEITO CONTRA HOMOSSEXUAIS, mas... o que posso fazer se sempre fui árdua defensora e admiradora do sexo masculino??? Também nada tenho contra as calças compridas para as mulheres, mas sou muito mais favorável aos vestidos e saltos altos. Questão de opinião. Com eles, tornamo-nos bem mais elegantes e femininas e, com certeza, bem mais sensuais aos olhos dos homens!

Naquela época, "marginal" era apenas o nome de uma avenida ainda em construção; carro, era chamado de "carango"; fusca, com motor envenenado, tala larga e escape aberto era o carro "da hora"! Tinha também, o "karmanghia", com o formato de um besouro. E para quem ouvia ao meio dia em ponto a Radio Bandeirantes, " a moça do karmanghia vermelho" que nunca apareceu mas que sempre era lembrada pelo saudoso Hélio Ribeiro, o locutor com a voz mais bonita do rádio...

Naqueles tempos, nós então jovens, frequentávamos as casas de samba mais conhecidas do momento. Quem não se lembra do agitado Teleco Teco, do esfumaçado Balacobaco, da Catedral do Samba, todos na famosa Rua Santo Antonio? Quantos sambistas sairam de lá direto para a fama? (Benito de Paula, Adauto Santos, Oswaldinho da Cuica...). O Jogral foi a primeira a que fui. Claro, acompanharam-me meus pais...Para saberem exatamente como era o possível "antro" a que os amigos de sua filha mais nova ameaçavam levá-la... Foi quando vi encostado a uma mesa de canto, um homem pequeno e franzino "tomando umas e outras", já "prá lá de Bagdá"... Tinha a expressão mais triste e solitária que jamais havia visto até então! Chico Anísio dava os primeiros passos para se tornar um dos humoristas mais conhecidos do Brasil... Na Oscar Freire com Rua Augusta, delirei ao ver ( e apertar a mão!!) do ator Hélio Souto, famoso galã de antanho, dono do também famoso " Dobrão", boate das mais bem frequentadas da época. E quanta saudade tenho das sessões de cinema do elegantérrimo Cine Astor, no Conjunto Nacional, onde também funcionava, no terraço da cobertura, o badalado restaurante Fasano que a partir das 17hs. servia o gostoso e sofisticado chá da tarde! E por falar em chá... parada obrigatória para quem descia a Rua Augusta " a cento e vinte por hora", era a "Iara", onde o chá completo já valia por um jantar! Ou, nas tardes mais quentes, o "lanchinho" do "Frêvo" com direito a um imenso " banana split" salpicado de farinha doce crocante? Antes de "cair na noite" para ouvir os chorinhos e sambões da Rua Santo Antonio, uma chegadinha ao Deck Bar, na Av. Nove de Julho... Como era gostoso!! Final de noite - após "badalar" nas boates mais conhecidas de Sampa, como a "Paspatour", a "Moustache", "O Beco", "Cave" (onde "moça de familia" só ia para conhecer...rssss!) "Stardust", "Ta Matete", "Shalako", "Charade", " Summertime", " Djalma", "Ton Ton Macoute"," Candel Light", " Semba", " Mirage" ( quem se lembrar de outras, por favor, envie-nos a colaboração ...) - era praxe tomar a famosa sopa de cebola do CEASA, bem na madrugada, então tranquila, da saudosa São Paulo dos gostosos e inesquecíveis Anos Dourados...

Miriam Panighel Carvalho
Enviado por Miriam Panighel Carvalho em 14/04/2005
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