Volta pro seminário!!!!

Rosa Pena



Eu juro que não queria nada, eu juro, juro sim. Minha professora de hidroginástica foi ter neném e colocou no lugar dela um estudante de educação física, que não era sarado, nem bronzeado. Quando olhei o teacher novo, disse baixinho pras colegas, que ele tinha cara de ex-seminarista ou professor de história. Ele ouviu e abriu um sorriso imenso. Ele, com um sorriso lindo e eu, com cara de babaca. Pedi desculpas e ele falou que não precisava. Explicou que além de não gostar de excessos de bíceps, tinha acabado de sair de uma gripe fortíssima. Fiz a aula toda errada, apesar de saber cada um dos movimentos. Tava sem graça. O professor de história (?!) pensou que eu era novata.
 
Na aula seguinte, resolveu me dar uma atenção especial. Tentei dizer que já fazia há cinco anos, mas minhas amigas desmentiram. Deixei rolar e, de tão passada que estava, errei mais ainda. Ele resolveu me ajudar. E assim foi durante algumas aulas: eu errando e ele voltando ao corpo normal.
Agora já era um ex-seminarista com coxas mais largas. Depois de uma semana, voltei a fazer os exercícios quase direitinho e ele achando que tinha me ensinado tudo. Mais uma semana e eu já tinha um professor de “história” saradinho e bronzeado.
 
Ele, empolgadíssimo, considerava que eu tinha melhorado graças a ele, e resolveu entrar na água e virar meu personal, para que eu pegasse o ritmo de vez. Tentou ficar amigo, levar um papo, descontrair geral.
— Maiô novo? — Bronze legal! — Gostei da sua tatoo! — Fez na Banzai?
Eu só olhando aquilo tudo na minha frente e meus hormônios, que não mentem jamais.
Que calor dentro d’água eu sentia.

Fazer hidro virou prioridade de vida. Acordar mais cedo, fazer uma escova no cabelo pra molhar depois, um brinco novo, um maiô preto é sempre tudo de bom.
Nunca malhei tanto na vida. Poderosa!
 
Em março, resolvemos fazer um almoço pra comemorar o niver dele. Restaurante marcado, lá fui eu toda embecada. Puxa o cabelo daqui e dali. Um blush no lugar certo, para tirar uns cinco aninhos da idade. Um jeans desbotado displicente.
Cheguei ao local toda crente que tava! Colegas chegando e tudo ficando muito animado. De repente entra o ex-seminarista com a mãe dele e a namoradinha. A mãe veio pro meu lado e disse feliz:
— Bem que o Cris disse que você era parecida demais com minha irmã mais velha.
Primeira porrada. O blush foi pro beleléu. Também, comprei nas Lojas Americanas, em promoção. Ganhava um esmalte!
Depois veio a namoradinha e exclamou!
— Oi, tia. O Cris disse que você aprendeu quase tudo com ele.
 
Segunda porrada: o cabelo enrolou. Maldito coiffeur, que fez a escova igual à cara dele. Mais sem graça do que no dia em que o conheci, fiquei calada, com fisionomia de tia recalcada, de cabelo pintado.
Juro que não queria nada com ele. Podia ser meu filho. Juro, sim, pois quem jura mente.
Ah! Maldita reposição hormonal, maldita densitometria óssea. Falo hoje mesmo com meu ginecologista, que não tomo mais hormônio, nada mais de exercício. Basta um “Oscal” por dia e ficar ao sol, fazendo crochê. Netos gostam de vovós gordinhas. Se continuar nessa, acabo que nem dona Maria, “A Louca".

Será que foi um ex-seminarista, professor de história, o responsável pela loucura dela?

livro UI!
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 18/04/2005
Reeditado em 05/12/2009
Código do texto: T11839
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