ANTÔNIA MARZULLO [ENTREVISTA]

ENTREVISTA COM ANTÔNIA MARZULLO

Nelson Marzullo Tangerini

Há anos venho tentando escrever a biografia “Antônia Marzullo, uma estrela”.

É deveras difícil escrever sobre minha avó materna, a atriz de teatro, cinema, televisão, rádio [Rádio Nacional] e comercial [Coopertone], uma vez que algumas pessoas têm dificultado o meu trabalho.

Juntando fotos, depoimentos e recortes de jornais e revistas da época, vou montando “o livro de Antônia”.

Alguém de nossa família - ou de nosso relacionamento -, por exemplo, recortou de um jornal uma entrevista com Antônia Marzullo, sem se importar em colocar a data, o nome do jornal e do entrevistador.

Para que este material não se perca, republico a referida entrevista no Polegar, para que o público leitor tenha uma idéia do pensamento da atriz

E: - Poderá nos dizer como se contrai a enfermidade do teatro?

AM: - Creio que não se contrai, nasce conosco. Se nos dão oportunidade, aperfeiçoamo-nos.

E: - Qual a principal qualidade de uma atriz?

AM: - Disciplina, obediência, pontualidade, respeito pelos colegas e pelo público.

E: - De todos os personagens que viveu, com qual se sentiu mais identificada?

AM: - A Genoveva, de As árvores morrem de pé, e a Rosa, de Dona Jandira, na TV.

E: - Qual a melhor recordação da sua carreira profissional?

AM: - Quando, depois de ter sido corista no Teatro Receio, fui para o Teatro João Caetano desempenhar o papel de Casselini, na opereta Os Huguenotes, ao lado de grandes artistas, tais como Conchita de Morais, Nestório Lips e creio que o senhor.

E: - Que pensa do teatro brasileiro atual?

AM: - É o mesmo de todos os tempos, apenas atualmente com mais repercussão pelo rádio, pela televisão e mesmo pelos jornais e revistas.

E: - Se tivesse de começar sua vida outra vez, desde o início, ainda escolheria o teatro como profissão?

AM: - Sempre, pois trago o teatro na alma.

E: - Que recomenda às atrizes jovens?

AM: - Juízo, estudo, começar baixinho e ir subindo aos poucos, para, se houver alguma queda, esta não ser muito grande.

Apensar de este recorte não conter as informações de que precisamos, é possível que o entrevistador tenha sido Chaves Florance, que a dirigiu, em 1922, na peça Os Huguenotes, no extinto Teatro São Pedro.

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Antônia {*Rio, 13 de junho de 1894 - + 25 de agosto de 1969), tem uma vasta e interessante biografia: trabalhou nas peças Toda nudez será castigada, Vestido de noiva e A mulher sem pecado, do escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues.

Conversava certa vez, no Centro Cultural Banco do Brasil, com Jofre, um dos filhos de Nelson, e este me diria que ficou impressionado com a atuação de Antônia em A mulher sem pecado. Durante toda a peça, a atriz, que fazia o papel de uma senhora paralítica e, portanto, entrevada, mexia apenas com os olhos. Por causa de seu grande desempenho na peça, o crítico teatral Brício de Abreu chamou-a de “A atriz que fala com os olhos”.

À filha mais nova, Dinorah Marzullo, também atriz, Antônia diria que não se sentia bem na peça, uma vez que não podia falar nem gesticular.

Antônia, que vivia profundamente suas personagens, sentira na alma o drama daquela mulher que, imobilizada por uma doença, ainda tinha os olhos e a consciência para ver e se indignar com todos os pecados.

Nelson Marzullo Tangerini, 53 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 25/09/2008
Código do texto: T1196544