Meus Irmãos, Mis Hermanos

Nascemos sós. E assim morreremos.

Como sozinhos fazemos a jornada de nossa existência.

Ninguém pode viver por nós nossa própria vida. É certo.

O que podemos é decidir como empreender essa caminhada.

Sós, imersos em nós mesmos, alheios e indiferentes a tudo e todos.

Ou escolher a solidão acompanhada.

Optar por partilhar com outros as belezas e agruras dessa viagem, sobre a qual conhecemos apenas o ponto de partida.

Ter com quem somar forças para superar obstáculos.

Ter com quem repartir horizontes: luzes da alvorada, nuances do ocaso.

Ter com quem admirar as hipnóticas labaredas do fogo, que aquece os corpos e ilumina o negrume das noites.

Ter com quem dormir-sonhar, embalados pelos sons noturnos, sob o cintilar da lua e das estrelas suspensas no firmamento.

Ter com quem nos proteger das intempéries e nos resguardar das forças dos elementos.

Solidão acompanhada é ganhar Irmãos em cada pouso dessa - ora árdua, ora suave - jornada.

Irmãos que nos abrem suas portas e em suas casas nos ofertam pousada.

Doam-nos seu pão.

Presenteiam-nos com sua generosidade.

Abençoam-nos com sua bondade.

Conquistam-nos com seu amor.

Ao partirmos, já não somos os mesmos. Jamais seremos.

Com eles deixamos parte de nosso espírito.

Deles levamos parte de seus corações.

É e será assim por toda a nossa caminhada.

Pois que a solidão acompanhada é isso. Uma sucessão de doações mútuas.

Enriquecemos com sabedoria ao ofertarmos generosidade.

Multiplicamos sentimentos ao dividirmos emoções.

Somamos virtudes ao subtrairmos egoísmos.

Celebrarmos a Vida na comunhão com o outro.

Sós e acompanhados.

Juntos e livres.

À essa Liberdade partilhada chamo de Amizade.

Para os que acompanho em suas caminhadas, sou Parceira.

Para os que comigo caminham em minha jornada, sou Companheira.

De ambos, sou amiga. E a ambos chamo de Amigos.

De ambos, sou irmã. E a ambos chamo de Irmãos.

Simone Salles
Enviado por Simone Salles em 20/04/2005
Reeditado em 22/04/2005
Código do texto: T12233