TEMPOS VERBAIS

Na boa, “ex” legal ninguém merece. A/O nossa/o lá vá, se bem que, se na hora do “acordo”, você foi quem entrou com a bunda, complica um pouco o meio-de-campo; mas a alheia, o passado do seu presente, aí já é demais!

‘Tá lá você, festa do amigo do amigo do amigo da sua cara-metade, você, claro, não conhece ninguém, mas veste seu vestido “eu sou mais eu”, empina os peitos, pinta de branco o sorriso amarelo emoldurado num batonzão “dá licença que eu tô passando” e encara a parada... e lá vem ela, toda sorriso e simpatia. Dá prá melhorar? Dá. Ela quer ser sua amiga! (É mais ou menos nessa hora que você se pergunta: Cadê a câmera? Só pode ser pegadinha...)

Conforme é público e notório, amizade entre mulheres, prá se consolidar, tem duas regras básicas:

Regra número um: Ir ao banheiro juntas. (Sem chances!)

Regra número dois: Confidenciar detalhes (sórdidos ou picantes) das relações presente e passadas. (É mais ou menos aqui que a porca torce o rabo.)

Do seu passado pode até ser que você fale, afinal, você não tem sangue de barata e é do tempo em que camiseta dos outros cursos diziam “Se a sua namorada faz Direito, eu faço Gostoso...”, logo, se ela banca o estilo “santa”, você, claro, banca o estilo “isxperrta”, se ela banca o estilo esperta, você, o MAIS esperta e por aí vai, feito poker, desde que bem feito, vale tudo, mas você lá quer saber das intimidades sexuais ou românticas do seu presente no passado? Óbvio, passado todo mundo tem (você também!), mas que fique lá, no passado, pombas!

E você escuta, afinal, infelizmente (nesse cenário) você não é surda, enquanto a pergunta que não cala ricocheteia na sua cabeça: “É burra mesmo, ou está de sacanagem?”

Dá prá melhorar? Dá. Como boa amiga, ela resolve lhe dar conselhos, desde “Não fale palavrão na cama (!)” até “O ovo frito dele/a tem que ser mais-ou-menos duro mais-ou-menos mole, senão ele/a não come...”... E sua mente respira aliviada: “Graças a deus não estou em TPM, ou isso aqui acabaria em caso de polícia!”

E sexta-feira foi dia das bruxas, e a bruxa, claro, estava solta... e com a macaca. Dia em que você só tem um compromisso: tal hora, aeroporto tal. Mas, claro, dá tudo errado e você finalmente se conforma de que não vai chegar a tempo nem por decreto divino. Sua única opção: ligar prá dita-cuja e, pior do que ter que engolir, ter que pedir, agradecer e ainda ter que ouvir o tal “Ela é super-legal, não é?”. E ter concordar. E ir à festa dela no sábado, sorridente, simpática, agradecida E fantasiada! E dessa vez, sim, você está em TPM. É mole?

Convenhamos, aquela conversa toda de “estou aberta pra toda e qualquer boa pessoa que cruze meu caminho” é balela. Tem gente que, por melhor que seja, preferimos manter a uma distancia segura, não tão longe, mas nem tão perto; E a regra vale em ambos os sentidos, às vezes a “ex legal” é você e ser legal demais, acaba sendo, de fato, ser tudo menos legal, e, manter-se a uma distância segura você mesma, acaba sendo, em bom Português, nada mais que respeito, ao passado, ao presente, ao presente do passado, ao futuro do passado, ao seu próprio futuro e, antes de mais nada, a si mesma.

Dalila Langoni
Enviado por Dalila Langoni em 02/11/2008
Reeditado em 03/11/2008
Código do texto: T1262361