"Nunca mais, nunca mais!"
Ocorre-me esse sentir, sempre que me nasce um bom texto. Nasce quente, ainda trôpego, mas já pressinto em seus veios a vida forte, a vida vocacionada para a vida. E me derramo em cuidados maternos, como a égua, ao que lhe sai das entranhas, já se pondo em pé. Tão independente nasce o cavalinho, mas a mãe o lambe com saliva quente, no calor da língua grossa. E essa saliva quente, nessa língua grossa, derramada sobre aquele que já lhe nasce fervendo em vida, o faz ainda mais filho daquela égua.
Ocorre-me esse sentir, sempre que me nasce um bom texto. Nasce quente, ainda trôpego, mas já pressinto em seus veios a vida forte, a vida vocacionada para a vida. E me derramo em cuidados maternos, como a égua, ao que lhe sai das entranhas, já se pondo em pé. Tão independente nasce o cavalinho, mas a mãe o lambe com saliva quente, no calor da língua grossa. E essa saliva quente, nessa língua grossa, derramada sobre aquele que já lhe nasce fervendo em vida, o faz ainda mais filho daquela égua.
Esse filho que me nasce assim, filho de égua, me faz sofrer assim: filho de mulher. Sofro porque sei que “nunca mais, nunca mais,” escreverei outro tão bom como aquele que já veio na mais pura bondade, a bondade de revelar-se pronto para ser lido, entendido, apreciado, admirado e metabolizado, até o ciclo final. Porque por mais que um texto seja esse: que coisa! Ele envelhece e morre!
Todas as coisas envelhecem e morrem. Um texto envelhece e morre para aqueles que já sorveram a sua substância. Para esses, aquele também é como este “nunca mais, nunca mais?"
Todas as coisas envelhecem e morrem. Um texto envelhece e morre para aqueles que já sorveram a sua substância. Para esses, aquele também é como este “nunca mais, nunca mais?"
Nesse “nunca mais”, esvae-me a vida, por entre os dedos. E por uns dias, “nunca mais” é “nunca mais”. Os meus limites ficam delimitados e debilitados pelo “nunca mais” que eu mesma me impus como parte do processo criativo. Tudo que vem depois, não tem calor, tem gelo. E o gelo, em plena primavera deste inverno, é ainda mais gelado. Ai que frio nessa manhã de 40 graus.
“Nunca mais, nunca mais!” Sinto que meu sentir se perdeu, o abstrato me fugiu, e nada mais me resta nessa manhã, a não ser abraçar tudo o que as minhas mãos podem tocar: meus gatos, meus cães, minha vida feita das 4 patas possíveis. Nunca mais terei mãos para escrever, apenas para varrer, limpar, lavar, passar e cozinhar. Se eu soubesse varrer, limpar, lavar, passar e cozinhar. Mas não sei. Sobra-me Deus no céu e o vazio na terra. “Nunca mais, nunca mais?”
Nunca mais tocarei o céu na terra, nunca mais terei a alegria mais pura, nunca mais sorverei do riso fácil, nunca mais subirei montanhas e descerei vales, nunca mais chegarei a beira do abismo - o abismo. Esse que me diz: "para sempre: nunca mais?"
Nunca mais tocarei o céu na terra, nunca mais terei a alegria mais pura, nunca mais sorverei do riso fácil, nunca mais subirei montanhas e descerei vales, nunca mais chegarei a beira do abismo - o abismo. Esse que me diz: "para sempre: nunca mais?"
Nunca mais! Que assim seja! Nunca mais, farei, portanto, coisa alguma. Que de coisa alguma é feita a vida até que me nasça outro vocacionado para a vida, já se pondo em pé. Graças a Deus, um dia, eles me nascem. E eu fico toda mãe de filho, toda mulher, toda filha do Deus Altíssimo, que me diz: “sempre mais, sempre mais, sempre mais.”
Mas hoje estou em sofrimento: "Nunca mais" está me sendo um grande, profundo e inaudível silêncio das espécies. - "nunca mais."