QUASE POSSO VÊ-LO ENTRE OS ANJOS.

Hoje sou a amiga e admiradora de Diniz Grillo. Hoje eu sinto a partida inesperada do menino sensível da Rua Apodi, que se tornou um artista plástico brilhante, um homem íntegro e um generoso divulgador da cultura potiguar.

Zé Diniz, filho de Dona Alice, morou na esquina da rua  que morei entre a infância e adolescência.  Lembro que quando ele começou a pintar trocou com minha tia Célia, cartazes dos filmes passados no cinema do meu avô Luís, por um retrato feito por ele.

Anos depois, já um artista reconhecido, pintou um ótimo retrato do meu pai. Nessa época eu e meu ex-marido, demos uma carona a ele que insistiu em fazer um retato meu. Foi a primeira oportunidade que perdi.

Destinos separados. Vidas diferentes e eu só via Diniz nos jornais que noticiavam suas exposições da arte naif pelo mundo. 

Veio o Orkut e nos reaproximamos. Diniz colecionava amigos e os presenteava com poemas lindos. Divulgava trabalhos de pintores, escritores e músicos da terra.

Encontramos-nos algumas vezes nos últimos anos. Ele, sempre carinhoso, quando leu um texto meu sobre a casa dos meus avós, que ficava em frente a de sua família, ofereceu-me antecipadamante a capa de um futuro livro. Senti-me, incentivada, honrada e feliz.

Hoje lamento por não mais receber as mensagens de Diniz e por ter adiado a publicação de meu livro. Perdi a segunda e última oportunidade. 

O último e-mail que recebi dele trazia uma crônica de Zélia Maria Freire. Falei para a autora que quis saber onde ele havia encontrado sua crônica. 

Perguntei, mas não obtive resposta. Li que ele estava preparando outra exposição e portanto  muito ocupado.

Ontem Diniz comemoraria , segundo os jornais, 30 anos de uma carreira bonita que levou suas telas mundo à fora.  

Ontem um acidente levou Diniz para o azul onde habitam os seres celestiais. Quase posso vê-lo entre os anjos.

Hoje eu homenageio Diniz Grillo, um dos mais conceituados artistas plásticos natalenses e o menino um pouco mais velho que cresceu perto de mim.

E aqui lembro  Caio Fernando Abreu, poeta que acredito ter sido um dos seus preferidos, pois ele nos ofertava seus textos com freqüência, através de recados delicados.


“Chegar ao centro, sem partir-se em mil fragmentos pelo caminho. Completo, total. Sem deixar pedaço algum para trás” .

Assim partiu Diniz. 

IMAGEM: TELA DE DINIZ GRILLO.
Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 11/11/2008
Reeditado em 12/11/2008
Código do texto: T1278566