Trabalhador

Todos os dias ele chegava bem cedo e assumia seu posto na mesma rua e na mesma esquina. Seu trabalho era estender as mãos e ficar à espera de uma ajuda. Uma moeda ou uma nota, talvez. Por menor e mais simples que fosse o óbolo, cada centavo tinha um valor incalculável para sua sobrevivência. Não faltava e nem perdia hora na luta pelo pão de cada dia. Um trabalhador verdadeiramente esforçado e digno de todas as honras e prêmios por fazer valer a dignidade e o direito à vida.

Todos os dias ele chegava bem cedo. Um ser humano especial que, ao se colocar em seu posto de trabalho acendia em cada rosto (que por ali passava) a luz do amor, quase sempre endurecido e petrificado ante os abusos da boa fé das pessoas. Portador de deficiência progressiva e irreversível, como gigante postava-se diante dos olhos do povo para dar seu grito de igualdade. Um grito real que rasgava o véu da indiferença e descortinava a hipocrisia do poder verborrágico.

Todos os dias ele chegava bem cedo e assumia seu posto na mesma rua e na mesma esquina. Sua presença era uma vitrine do descaso e da omissão dos cobradores de impostos que têm como único objetivo aumentar o faturamento e os índices de popularidade. Todos os dias ele chegava bem cedo para não nos deixar esquecer de que somos felizes e agraciados pela divina providência que nos presenteia diuturnamente com a força, a saúde e o privilégio da fé que movimenta e dá vida aos nossos sonhos.

Todos os dias ele chegava bem cedo e batia à porta de muitas consciências que passavam apressadas, cegas, surdas e mudas. Ele passou.

fiore carlos
Enviado por fiore carlos em 16/11/2008
Código do texto: T1286100
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.