DOM DE ILUDIR

 Acordei pensando sobre o amor e a verdade. Fala-se sempre de amor verdadeiro e ligamos o amor real à verdade.

 Repetindo Cazuza: mentiras sinceras interessam.  Há momentos que evitamos  a verdade por amor. Não há amor que resista a sinceridade total. 

  Mentimos com amor quando dizemos que o outro acorda lindo, que o seu ronco é canção de ninar e que não ficamos tristes quando  falta dinheiro para o jantar prometido.

 São mentiras amorosas que fazem bem ao amor. Mentiras  proferidas naturalmente,  uma vez que há um pouco de verdade nelas. Pois os feios são belos aos olhos de  quem os amam e essa percepção é um milagre do amor. Coisa das mais bonitas!

  Infelizmente nem toda mentira  nasce do amor. São as  mentiras  que destroem. Inverdades que escondem o caráter. Jogos de luzes. Ilusões de óticas com fins poucos nobres, afinal quem ama mentindo faz com que o outro ame uma ilusão.

  Essas são intragáveis e ao serem reveladas causam dor. Fingimentos com o propósito de iludir são maldades das quais nem os poetas são isentos. Poesia é feita de sonhos e de vida.  Nem sempre traz a verdade presente, mas a verdade desejada ou passada refletindo a real face do autor.

  A verdade, por sua vez, também, tem o dom de iludir, como canta Caetano.  Porém, ao final do amor, quando passa a dor o que importa é que  "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é", de acordo com o poeta de Santo Amaro da Purificação.

Evelyne Furtado em 30 de novembro 2008.
Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 30/11/2008
Reeditado em 03/12/2008
Código do texto: T1311279