Tiro na pessoa errada

Havia chegado de uma viagem de 1.500 quilômetros e estava descansando numa rede instalada na área de minha residência na cidade de Barra do Garças, Mato Grosso, quando ouço alguém me chamar no portão. Era um vizinho, o Sinval, que me informava que o Rogério, um adolescente filho do João e da Vera também vizinhos e amigos, tinha sido alvejado na perna por arma de fogo.

Tomei banho e lá pelas 19 horas dirigi-me para a residência dos pais do adolescente. Lá o ambiente era de dor e de indignação, principalmente por não haver motivo aparente que justificasse aquele tipo de agressão ao garoto. A pessoa que disparara o tiro no Rogério era um desses guardas de supermercado, sem a mínima formação para portar arma de fogo. Era, na verdade, um despreparado da vida que confundira o Rogério com um mal elemento qualquer, talvez até com um marginal.

O rapaz atingido fora medicado a tempo, porém os médicos locais recearam na hora de extrair o projétil, pois a temperatura do corpo do mesmo estava em constante declínio, o que, segundo os médicos, colocaria em risco a vida do rapaz. A recomendação médica era remover o rapaz para a cidade de Goiânia em Goiás que estava mais próxima(420 km) e teria mais recursos em termos tecnólogicos. Os pais do Rogério optaram por fretar o avião do Vivico, um piloto de coragem que topara a parada. Como estavam abalados e desencorajados, os pais do rapaz pediram-me para ir com o piloto e mais uma enfermeira na viagem para ajudar a firmar o cobertor de lã na perna de seu filho, afim de manter a temperatura. Na época o aeroporto que iria ser utilizado era o da cidade de Aragarças em Goiás, por sinal, sem a devida iluminação. A cidade de Aragarças é vizinha da cidade de Barra do Garças em Mato Grosso, separadas apenas por duas pontes, uma no rio Araguaia e outra no rio Garças. Para o avião decolar à noite teria que haver uma permissão expressa do chefe da Aeronáutica que, procurado por nós, fez suas ponderações alegando que do ponto de vista da Aeronáutica nada justificaria colocar em risco três vidas para salvar uma, mas que dentro de uma visão coerente e entendendo a finalidade, não colocaria tambores na pista para impedir o vôo. As emissoras de rádios locais convocaram os habitantes das duas cidades para irem ao aeroporto de Aragarças para com seus automóveis iluminarem a pista para favorecer a decolagem do avião monomotor. O aeroporto Santa Genoveva em Goiânia já tinha sido alertado e alguns médicos e enfermeiros já estavam à postos, aguardando o sucesso da viagem.

Tudo preparado e quando já estávamos a caminho do referido aeroporto, eis que acontece um milagre, a enfermeira que nos acompanhava alertou-nos aos choros que a temperatura do corpo do rapaz havia voltado ao normal e, assim, aquele vôo fora abortado e o rapaz fora operado na cidade de Barra do Garças com sucesso total. Hoje, passados 23 anos do ocorrido, ainda agradeço a proteção Divina pela intromissão nesse caso, relembrado aqui.

Amarú Inti Levoselo
Enviado por Amarú Inti Levoselo em 15/12/2008
Reeditado em 15/12/2008
Código do texto: T1336410
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