Vampirismo

Por vezes, você está distraído.

Naqueles momentos de reflexão ou de olhar para o horizonte.Assim meio zen.

Aí, surge a criatura. Normalmente, gentil e frágil ao primeiro contato.

Ele lhe conta das desventuras da vida.De sua falta de reconhecimento. Lembra um Woddy Allen mais jovem.

Você sente pena, empatia. Começa a consolá-lo. Ele, como criança birrenta, reclama de suas investidas. Reinaugura o mito do amor incondicional.

Quer olhos, nariz, ouvidos, pele e boca ligados ao que fala. Hipnotizados, por seu pensamento circular.Deseja uma vida onde só exista o ego. O superego é muito indesejado.

E você sente-se esgotada.A cada elogio, ele se reforça. A cada puxada discreta nas orelhas, ele se revolta.

E, aí amiga,você não sabe o que fazer.Não lhe resta nem o recurso do conto de Borges, onde diante do inevitável da morte o personagem acorda.

Como um vampiro pós-moderno ele vai lhe sugando as energias.Um dia você explode.

E a guerra está declarada.