ANDORINHAS
À noite choveu e choveu tanto que ainda de dia, dez horas da manhã, as Jabuticabas e pitangas enfeitavam-se com pingentes de água e luz.
Voava a minha alma ao redor das frutas quando ouviu o chilreio das avezinhas em arribação e os meus olhos viram, contra a cinza do céu birrento e um pouco frio, tantas Andorinhas que pareciam letrinhas a escrever bales no ar: A, B, C, D, E... E, D, A, C, D, B... A, D, C, E, D, A... E vieram tantas que S, T, U, V, X, Z, dançaram com H... Outras mais vieram que a 1, 2, 3, 4... Formando pares: 1A, 3B, 5C... 6-7; 9-10... Rodopiando, subindo, descendo, carregando-me com elas num fluido devaneio de vê-las escrevendo fórmulas de bales imaginários, distraindo-me em mistura-las em abstrações de letras dançando com números até que a andorinha 5, em mergulho vertiginoso, veio formar um par com a andorinha H que rodopiava com o par de andorinhas N-1 e, rodopiando partiram numa reta, H5N1, que passou sobre uma pipa solitária que também dançava pelas mãos de uma criança que brincava na praça vazia...
Eu fiquei ouvindo o chilreio e, agora, vendo apenas andorinhas que pareciam que já não cantavam mais e sim, falavam entre si de um segredo que lhes afligia...