DEPURAR

Deseja depurá-lo? Essa questão surgiu insistentemente na tela do computador ontem, à noite, quando tentei acessar meu orkut. Não consegui resolver o problema. Fiquei sem saber como meus amigos passaram a entrada de Ano Novo.

Como mágica, me vi catando pecinhas do computador que teriam sido jogadas no lixo, por quem pedi para concertá-lo. Para minha surpresa, na lixeira, localizada num matagal, encontrei vários pacotes pesados encobertos com figuras de revistas. Num deles pude constatar: era dinheiro, muito dinheiro. Não contei, mas a golpe de vista, uma pessoa calculou um milhão. Enfiei os pacotes por baixo da blusa e saí.

Logo, alguém perguntou: vai devolver? – Não sei! Outra pessoa passou gritando: essa lixeira é da... ! Pensei: tudo bem, por ora, já que há muitos funcionários e o prédio é no centro da cidade, algo estranho pode ter ocorrido para essa quantia ter ido parar lá onde a encontrei.

Minha primeira decisão com o dinheiro em mãos: ir à instituição descobrir quem era o dono. Como a notícia já tinha se espalhado, na caminhada, fui abordada por gente contando problemas financeiros e pedindo solução. No íntimo, tinha certeza que não devia mexer num centavo sequer; causando assim aborrecimentos.

Parecia que todo mundo sabia para onde eu ia porque, quando cheguei ao local de onde seria a lixeira, até o chefe da pasta já estava à minha espera. Era um cochicho daqui e outro de lá. Um rapaz dizia ser o dono do dinheiro economizado durante muito tempo para uma campanha política. Ia entregar a ele quando ouvi, ao fundo, num rádio ligado, a voz de um policial informando que o produto pertencia ao tráfico de drogas. Sem comentar o que acabara de ouvir, nem justificar minha decisão, anunciei que não devolveria a quantia, provocando os presentes a se manifestarem com um longo: ooohhhh! Que poderia significar diferentes julgamentos e suas respectivas sentenças.

Saindo do ambiente, tive a idéia de comprovar a revelação do policial. Abri uma parte do decote da blusa, deslizei os dedos na ponta de um pacote de cédulas formando uma espécie de leque. A cada nota que passava, o pó de cocaína se espalhava no ar. Descobri que carregava uma “bomba” prestes a explodir encima de mim porque, se entregasse o dinheiro à polícia, seria perseguida pelos traficantes e, se devolvesse a eles estaria estimulando o tráfico de drogas, além de incorrer no mesmo crime.

Lembrei de várias famílias chorando pelos filhos dependentes e/ou presos. Muitas escolas perdendo alunos para as drogas e, principalmente do dia no qual uma professora pediu aos alunos que desenhassem como viam, cada um, o próprio futuro. Um aluno apresentou-se como traficante de drogas, usando jóias e armas, cercado de carrões e mulheres e dono de uma boca de fumo que levava seu nome. Foi um choque. A explicação do aluno: dá dinheiro.Ele sequer deu atenção à professora explicando que além do dinheiro, o tráfico de drogas provoca mortes e prisões.

Perguntei a mim mesma: o que está acontecendo? Abri o celular, joguei a luz dele sobre o despertador. Eram duas horas da manhã quando acordei. Do sonho, porque nunca tive nem meio milhão e pesadelo por causa da origem desse supostamente encontrado.O que aconteceu com ele? Fica para o próximo “capítulo”, sonho ou pesadelo. Tenho certeza que não gastei. Sabem por quê? Minhas contas estão por serem pagas.

Xi! São quase quatro horas da madrugada. Ainda dá tempo de dormir mais um pouquinho.

E, sendo assim, é provável que eu desista dessa mania noturna de comer feijão com pimenta malagueta e farinha. Dizem que dá pesadelo. Ah! Ah! Ah!

DEPURAR. Tornar puro ou mais puro; limpar:depurar metais; pr.purificar-se, limpar-se.

Roraima
Enviado por Roraima em 08/01/2009
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