DIAGNÓSTICO DA SOLIDÃO
DIAGNÓSTICO DA SOLIDÃO
“Mens sana in corpore sano”. Assim foi consagrado.
Está certo?
Talvez, mas é incompleto. Falta um termo. E na minha equação pessoal, sei exatamente quais são os elementos que a compõem e as características de cada partícula.
A representação correta da minha equação seria “uma mente sã e uma alma doente num corpo sadio”. Acho que é isso, considerando-se MENTE como o racional e ALMA como o emocional. CORPO, por óbvio, a matéria densa. É que sou, por natureza, romântica, apaixonada, não sei viver sozinha _ a solidão afetiva é para mim o pior de todos os males. E é com ele que convivo e vivo. Disse convivo, mesmo, porque convivência é uma imposição da minha natureza.
Não VEJO a beleza de uma paisagem! SINTO-A quando troco um olhar com o OUTRO, que acabou de ter a visão preenchida daquela maravilha . É neste momento que a beleza EXISTE e se torna um valor. Em si, a paisagem apenas existe, despida de qualquer valor estético. Nada diz à minha alma. As cores são apenas fenômenos óticos, físicos,
Destituídos de significados emocionais.
Se pinto uma tela, posso até estar satisfeita no aspecto técnico com o resultado dela. Havia uma emoção toda se acumulando e guiando meus pincéis enquanto trabalhava. Agora, essa emoção precisa realizar-se: preciso mostrar essa obra a alguém especial. Quando o conteúdo emocional da pintura atinge esse alguém, a OBRA se completa para MIM.
Ver um filme muito bom, ler um livro excepcional, ouvir uma música irretocável. Tudo isso são coisas que carregam ao máximo minha bateria emocional. A tensão da carga pode chegar ao ponto limite. Toda essa energia emocional acumulada se transformará em movimento criador de emoções positivas para mim na hora em que acontecer a troca : comentar, ouvir/sentir a idéa/emoção do OUTRO.
Se esse movimento emocional não se completa pela troca/comunhão, não se transmuta em energia positiva. Ao contrário: torna-se uma carga de brutal potencial implosivo. Gera uma revolta interior, uma tempestade interna. Resto destruída.
A sucessão das ocorrências levou ao aprendizado e aperfeiçoamento da técnica de evitar aquela dor. Não quero mais viver ou sentir de modo a armazenar nitroglicerina. Não quero fazer nada daquilo que deveria ser bom, como viajar, ler, ouvir música, criar, fazer e ver arte, rolar na natureza.
As pessoas dificilmente entendem isso.
Ora, não quero coisa alguma que carregue minha bateria emocional se não disponho da usina de transformação e saída da carga. Será um peso! E um peso de qualidades físico-químicas absolutamente instáveis.
Para que ver um filme, se não há com quem comentá-lo?
Para que delirar com uma poesia, se não há quem a ouça?
Para que viajar e ver coisas novas se sozinha as verei e, nem na volta, terei a quem contar o que vi?
E se eu tivesse o azar de encontrar as minas e o tesouro do Rei Salomão! Sufocada por tanto fulgor, morreria nesse momento soterrada sob a emoção provocada por tanta beleza, por não ter a quem mostrar e com quem a dividir?
Essa é a doença que fragiliza minha alma. É a tristeza de saber que não posso conviver com o bom, com o belo, pois não tendo com quem os dividir, não havendo saída para a força que produzem dentro do meu ser. Tornam-se apenas energias destrutivas e devastadoras.
Conseguiu entender?
Não tente me aconselhar.
Não conseguiria modificar a minha natureza libriana . A balança tem dois pratos. O fiel só encontra o ponto de equilíbrio se os dois pratos estiverem preenchidos. Um é o meu, o outro é o do OUTRO !
O outro está vazio.