Pânico de Avião

Num taxi, em direção ao aeroporto, Simone estava pensativa:

- Infelizmente, não puxei a mamãe. Cresci ouvindo-a dizer que não queria morrer sem antes andar de avião. Coitada. Seu desejo nunca foi cumprido. Engraçado. Logo eu, que morro de medo, tenho que viver nesta ponte aérea.

- Chegamos madame.

- É mesmo. Obrigada. Quanto foi a corrida? - e continuou pensando:

- Meu Deus. Está chegando o momento crucial. Meu pavor, mesmo, é na hora de levantar vôo. Quem vai me ajudar, hoje?

- Senhores passageiros, apertem o cinto para a decolagem!

- Nossa! A aeromoça já deu o aviso! Moço, posso segurar na sua mão?

- Por quê?

- Porque tenho medo. Posso? Por favor, não fale nada, sim?

- Tudo bem!

Daí a pouco...

- Ai! Solta! Você está me machucando!

- Desculpe. Minhas unhas estão muito compridas.

Na outra semana...

- Posso segurar na sua mão um pouquinho, seu... Seu... Seu...

- Coronel Duarte, às suas ordens.

- O senhor se importa se eu segurar na sua mão?

- A senhora tem medo? Que absurdo! Este meio de transporte é muito seguro!

- Por favor, fique calado.

Quando o avião aterrissou, Simone percebeu que havia arrancado o botão dourado da farda do coronel e, muito sem graça, lhe disse:

- Seu coronel, quero lhe devolver o seu botão.

- Que bobagem este seu medo! Faça como eu, que viajo toda semana e...

- Por favor, aceite o botão logo, porque tenho que descer aqui.

- Viajar de avião é tão tranqüilo! Não tem nada melhor do que...

- Muito obrigada e o seu botão está aí na poltrona.

Um mês depois...

- Se Deus quiser, esta será a última vez que viajo neste trem. Meu medo é tanto que vou acabar morrendo de enfarte aqui dentro. - pensava ela - E o pior é que hoje o avião está vazio e não tem ninguém por perto para eu segurar. Ah! Graças a Deus chegou uma mulher com o seu filhinho.

-Boa tarde. Podemos nos sentar ao seu lado? Não gosto de viajar sozinha.

- Eu também, não. Sente-se. Deixe-me pegar o neném um pouquinho?

- Pode sim, mas ele está com uma diarreiazinha.

- Não tem problema. Gosto de criança com febre, coqueluche, sarampo, etc.

O bebê não estranhou o colo diferente e até gostou de ficar apertadinho no peito da medrosa.

Ao chegar ao seu destino, ela o entregou à mãe e viu que estava toda borrada.

Antes de seguir para a sua reunião, passou no toalete, tomou um banho, trocou de roupa, tomou uma decisão e chamou um taxi:

- Motorista, por favor, siga para a rodoviária.

Anna Célia Dias Curtinhas