MOTIVO.



Há dias penso em escrever sobre a efemeridade. Ainda tento lidar com a fugacidade da beleza, da alegria e dos encontros felizes.
 
Indago, divago, invado-me, procuro motivos e ainda não cheguei ao meu texto, simplesmente por não aceitar totalmente a impermanência do que me é aprazível, ou simplesmente confortável.

A vida, indiferente  à minha vontade, ensina. Não me furto ao aprendizado. Já sei quando não há alternativas às mudanças. Já treino outros passos; outros caminhos.

Porém, ainda bato pé como criança em algumas ocasiões. Inquieto-me e todas as minhas inquietações levam-me à completude de Cecília Meireles, que cedo aprendeu a lidar com o efêmero.

Enquanto não encontro as minhas próprias respostas faços de seus versos e verdades o meu canto.





Motivo

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.
Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei.
Não sei se fico ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo: — mais nada.


Cecília Meireles.
Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 09/02/2009
Reeditado em 11/02/2009
Código do texto: T1430658
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