Um Certo Silêncio.

Ontem a noite parecia estar tão calma. A lua cheia brilhava e reinava num céu nem tão estrelado. Às duas horas da manhã eu estava diante da tela do computador, completamente perdida em meus pensamentos, sem inspiração alguma. Pela janela entreaberta entrava uma aragem que trazia o cheiro puro do campo, pois na cidade onde estou vivendo a civilização ainda não chegou, falando de um modo geral. O calor aqui é insuportável, mas nesta madrugada eu pude agüentar. Não havia viva alma na rua; dentro de casa, até os cães dormiam. Mas havia um certo silêncio. Um ruído dissimulado que só eu podia perceber. Era esse ruído que levava embora minha inspiração. Eu fixava meu olhar na tela do computador, mudava os sites e parecia que eu estava hipnotizada. Até que eu finalmente me dei conta de que aquele ruído que parecia quebrar o bendito e reconfortante silêncio vinha de mim: era minha alma que estava gritando, chorando por liberdade, pedindo amor e carinho, um afago, um beijo roubado. Era minha essência fragilizada que desejava fortemente ser ouvida. Mas mesmo assim, mesmo depois que eu descobri o que tanto me perturbava,minha inspiração não voltou. E voltei à minha quietude. Desta vez havia um certo silêncio dentro de mim, diferenciado, no entanto, daquele que me cercava. Era um silêncio doído, quase palpável. Um silêncio com poder de ferimento mortal. Hoje eu ainda sinto a dor, como se uma cicatriz existisse em meu coração. O silêncio externo me acompanha, mas o interno congelou minhas esperanças.

Rita Flôres
Enviado por Rita Flôres em 11/02/2009
Reeditado em 08/02/2017
Código do texto: T1433370
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