Super-heróis

Ah! Essa história aconteceu há muito tempo, na época em que sonhávamos em ser super-heróis. Achávamos que com apenas uma simples toalha na costa imitando a capa voadora, com um saco de papel no rosto pintado a carvão, seríamos o Batman ou o Super-homem. Depois de vários tombos e arranhões percebemos que voar não dava certo.

A tampa da lata de marmelada seria o escudo protetor do colorido Capitão América. Servia, até que um corte no dedo encerrava a brincadeira. Sem preconceito, mas o japa Nacional Kid, que passava na TV em P&B do Hotel Negro Reis, era um herói que não nos agradava. Éramos mesmos influenciados pelos gibis americanos. O inglês Tarzan, então, já estava démodé, e o velho John Weiner também, embora os pais ainda gostassem. As novelas do Geraldo Vietri (Tupi) e depois da Janete Clair (Globo) ocupavam a noite.

Mas voltando aos heróis e personagens: os da TV em P&B, não eram fáceis transformá-los em brincadeiras. Homem de Virgínia, Bonanza, James West, Durango Kid e os alienígenas. Difíceis de representá-los. Acho porque não tínhamos os cenários, os cavalos e as naves espaciais. Também por que eles resolviam tudo sozinho e não nos deixavam imaginar muita coisa. Não podíamos sonhar como nas leituras dos Gibis.

Mandrake influenciou alguns. Ainda hoje usam velhos truques aliados à boa lábia e, como num passe de mágica, se elegem. O Fantasma ajudava os ingênuos pigmeus. A nossa Diana gostava dos meninos dos outros bairros... A floresta estava longe, muito além dos morros. E às vezes nos escondíamos na Fortaleza da solidão. Aprendemos a trabalhar em equipe quando líamos os episódios especiais em que os super-heróis – Homem de Ferro, Super-Boy, Mulher Maravilha, Thor, Hulk, Homem Aranha e tantos outros – se reuniam em ação conjunta para salvar a cidade, o mundo ou algo assim. O roseiral se transformava em planeta perdido. O robô dizia: "Corra, WIL! Perigo! Perigo!". Os belos heróis enfeitiçados transformavam-se em ladrões.

No catequismo de domingo, à tarde na capela do Lar São Vicente, havia duas irmãzinhas que nos presenteavam com as revistas de histórias de Santos: São Sebastião e Santo Expedito eram os meus preferidos, só não gostava do final. Tinha os filmes grátis que passavam no Cine Aparecida. Na Semana Santa, era a Paixão de Cristo em P&B. Durante outras épocas do ano eram os Simbás e dezenas de marujos e o terror do fantasma, que hoje não assusta nem meu pequeno poodle Diguinho. Mas o que assustava mesmo era ir pra casa depois do final da segunda sessão que terminava às 23h e passar em frente ao cemitério.

Mas esses Heróis foram aos poucos desaparecendo, quase que morrendo, ao mesmo tempo descobrimos que existiam os de carne e osso e estavam tão perto de nós...E nem percebíamos. E eles já dão sinal que vão embora.

Somente muito tempo depois que vieram os livros grossos sem desenho, mas com muita realidade, como os Sertões, Neruda e tantos outros.

Pois é, amigos, com essas pequenas lembranças vemos o quanto somos influenciados pela leitura. A vida é quase igual a um filme ou às saudosas histórias dos gibis. A diferença básica é que entre os heróis e os bandidos, as fantasias, sonhos e a realidade, sabemos que o personagem principal da vida e suas atitudes somos nós que escolhemos.

O final de algumas histórias tristes?

Confesso que esqueci.

Reinaldo Cabral
Enviado por Reinaldo Cabral em 22/02/2009
Reeditado em 25/02/2009
Código do texto: T1452745