História de medo**

Tá bom, já que eu voltei, eu vou continuar... Acontece que hoje nem história de mágico eu tenho... Tenho história só de medo, vale?...

Então, quando eu ainda não tinha 7 anos, eu e os primos passávamos férias no sertão, na casa da vovó. Coisa que era normal de todas as férias: pra desatrapalhar os pais na cidade.

Outra coisa normal desse tempo era eu e minha prima Carol, de idade parecida com a minha, brigar sempre que nos encontrávamos: birra de meninas.

Pois foi numa dessas que eu perdi uma. Começou quando as mais velhas preferiram brincar de cabeleireiro no cabelo da Carol. Aí, de ciúmes, eu me danei e intimei Carol até um pranto: um daqueles que quando se diz que não é nada, se chora ainda mais. Quando vi, saí saltitando, correndo, me acabando de rir, ao mesmo tempo em que gritava de alegria contando pro mundo que tinha conseguido fazê-la chorar.

Uns mais tarde, quem não parou de chorar fui eu. Mesmo o primo provando que o monstro branco era só ele, eu não me lembro de ter parado de chorar naquele dia, principalmente de chateação, de não ter sido o choro da Carol.

Foi a primeira das brigas que eu lembro perder. Essa foi também a primeira das vezes que eu paguei pela minha língua. Depois, vieram muitas: ironicamente mais sérias à medida que a vida foi ficando.

De uma das últimas, eu cheguei cantando, fazendo pouco de quem me ouvia, dizendo que eu não precisava mais amar a ninguém; se apaixonar, nem jamais.

Paguei pela língua de novo.

**crônica publicada no site Crônica do Dia: www.patio.com.br/cronica

Cristina Carneiro
Enviado por Cristina Carneiro em 29/04/2006
Código do texto: T147281