E Se Não Fosse a Maçã? (humor - reflexão)

Zelinha, como boa filósofa que é, acha divertido por a gente pra pensar.

Fiz-lhe uma gentileza e ela disse que eu era um anjo. Retruquei que não, que anjo não tem sexo.

- Então, como nascem os anjinhos? - quis saber.

Dou corda. Respondo que Deus os cria. E que nós, filhos de Eva, só temos consciência do sexo por causa do pecado original.

E ela, criança eterna diante das ciências do mundo e dos céus, cutuca, provocando:

- Anhé!? E como é que seria o tal do crescimento e multiplicação de Adão e Eva, se não fosse a cobra?

Sei lá, se deveria estar aqui, me arvorando a intérprete divina mas, vá lá. O bom de escrever é isso. O que não se sabe, inventa-se.

O Criador já deu uma pista. Ao fazer Eva de uma costela de Adão, penso que de costelas de Eva se fariam os filhos de Adão, embora eu ache, sinceramente, que essa conversa de costela é erro de tradução das escrituras. Isto é... Temos um número par de costelas... Imagino que o que aconteceu com nossos primazes teria se perpetuado em toda a espécie humana. Poderia ser um apêndice... Quem sabe, antes de se casar, Adão não teria dois? Não pense que esta discussão não tem importância. Como teríamos condições de crescer e nos multiplicar, retirando do corpo ossos ou vísceras importantes? Minha mãe, coitada, com sete filhos, sete costelas a menos, andaria curvada, o pulmão desprotegido...

Mas, pense pelo lado bom. Os nascimentos se dariam de forma tranqüila e sob anestesia geral. O anestesista? Ninguém menos que o próprio Pai. Sem chance de erro ou choque anafilático. O cirurgião, idem! Nem um bisturi ou gaze esquecido na cavidade... Sem cicatriz!! Nada de barrigões antiestéticos, estrias, dores nas costas, bolsas rompidas, partos sanguinolentos e sofridos, gritaria, palmadas no bumbum do neném e câmeras de vídeo do orgulhoso papai a postos. Parece mesmo muito bom. O sexo não faria falta, pois sem a maçã, não teríamos conhecido o "pecado"... Viveríamos no paraíso, nada de trabalhar para ganhar o pão... Sem dor, frio, calor...

Claro que, como diz o ditado, “a precisão é a mãe da invenção”. Sem necessidades, não evoluiríamos. Eternas crianças, sob as barbas do Pai. E, uma coisa é certa: ninguém daria a mínima.

Não, Zelinha. Sou católica apostólica romana e sei que você, como boa agnóstica que é, se diverte com as crendices dos que têm fé. Sei que “há muito mais entre céus e terras do que supõe a nossa vã filosofia” (Shakespeare), mas sou algo mais pragmática em minhas crenças.

O que eu acho mesmo? Que descendemos do macaco e a teoria criacionista é apenas um conjunto de lendas místicas que visa explicar nossa índole pecadora. E nos levar à culpa e penitência.

De qualquer modo, sempre é divertido um duelo verborrágico desses com você que nos ensina tanto. E, cá, entre nós... saí no lucro. Imagina se você quer que eu explique como se reproduzem os diabinhos?