Não podemos ver mais a lua?

Saí da minha casa às 19h00min para participar de um encontro de Pais e Padrinhos do Batismo, como soe acontecer todos os meses. Logo ao pisar na calçada, olhei para o céu e vi a lua... Lua cheia, bonita, alta lá em cima e romantizada pelas nuvens negras que lhe rodeavam... Uma imagem encantadora, numa noite de verão muito quente! Desci a rua e fiquei abobalhada olhando para a dona da noite, enquanto ouvia uma música instrumental muito alta num som de um carro. Combinavam imagem e som. Tive vontade de ficar por ali alguns minutos para me inebriar com momento tão diletante! Parei em frente à escadaria da Igreja Matriz e me pus a olhar e a ouvir... Meus olhos viam algo mais que a lua no céu; meus ouvidos ouviam mais que aquela melodia... As pessoas passavam indiferentes a tão belo espetáculo! E eu pensava: como podem ser tão insensíveis! Desaprenderam a olhar para o céu... Não se importam mais com a lua que, durante toda a vida foi cúmplice de tantas cenas de amor! A lua que presenciou tantos colóquios amorosos, que inspirou tantos poetas!... O que estará acontecendo? Nesses solilóquios, prossegui na minha caminhada. Adiante, me encontrei com uma amiga e pedi a ela que olhasse a lua, que visse como estava linda! Friamente, ela, com um olhar evasivo, me disse: É... Está mesmo. E continuou sua caminhada. E eu ali encantada, perdida na majestosa beleza do astro que me fazia sonhar, que me levava à infância, à adolescência, à juventude... E muitas pessoas que passavam me olhavam com certa admiração... Elas não sabiam que esse era um momento mágico para mim! Todo o meu ser se entregava àquela contemplação! Meu coração suspirava, minha alma chorava num misto de alegria e tristeza... Ali, em êxtase, não percebi quando alguém se aproximou de mim, arrancando-me a bolsa e o relógio.
Cheguei ao local do Encontro e contei o fato a umas amigas que saíam de uma reunião, quando uma me disse:
- A lua está tão linda nessas noites, que pensei ir para a fazenda, a fim de sentar à porta e ficar apreciando a noite. Mas não podemos mais, pois os assaltos chegaram também à zona rural e ninguém se atreve mais a ficar sentado pelas calçadas, gozando do frescor da noite e da beleza da lua.
Veja, caro leitor, em que mundo vivemos! A evolução trouxe tantos benefícios ao homem, mais conforto a sua vida e, em contrapartida, trouxe-lhe medo e insegurança. Vive-se hoje a síndrome do assalto... Em toda parte, em qualquer lugar!
E a lua, para muitos, perdeu sua formosura, seu encantamento, tragados pela onda de violência que amedronta as pessoas e deixa-as reprimidas, oprimidas... O fato é que não foi a lua que deixou de ser formosa, encantada... a musa inspiradora dos poetas! Foram as pessoas que, ante essa situação de insegurança, tornaram-se insensíveis ao seu romantismo, nessa “selva de pedras”, contrariando, assim, até os sentimentos da mulher, sua subjetividade voltada para o mundo exterior.
Eu continuo me encantando pelo encanto da Lua que, com sua luz prateada, embeleza as nossas noites, em momentos místicos!