Crônica sobre o quê?

Um certo professor da faculdade passou como trabalho fazer uma crônica com o tema livre, ai pensei, “pô facinho”, nem foi. Passei a semana pensando em que tema, no que escrever, e nada. Esse stress de final de semestre acabou com meus neurônios, não sabia sobre o que escrever. Comecei a perguntar para as pessoas, uma me disse, “escreve sobre o que você gosta”. Música. Mas já tinha acabado de fazer uma matéria sobre música para outro professor, o assunto já tinha se esgotado com meu cansaço. Outra pessoa me disse para escrever sobre política, mas foram seis meses me matando na aula de política para poder passar. Não, esse assunto eu passo.

“Pequenas coisas da vida”, o único que consigo pensar agora é na rede ali na varanda e eu aqui, enfurnada no quarto na frente do computador, porque o semestre está no final e têm um monte de trabalho para fazer. “Melhores shows”, este ai seria um bom tema, mas entra no quesito música, e a minha cabeça está para enlouquecer de tanto que já mexi com isso nessas últimas duas semanas, e olha que foi divertido.

Chegou num momento em que eu já não sabia mais o que fazer. Era quarta-feira, meia noite e eu estava na casa de um amigo fazendo trabalho e pensei, estou perdida, não sei sobre o que falar. Ai comecei a lembrar da minha época de Ensino Fundamental, nas aulas de redação sempre fazíamos a festa quando a professora falava que o tema da redação era livre. Delirávamos, escrevíamos páginas e mais páginas. No Ensino Médio foi parecido, só que eram raros, quando não impossíveis, os momentos em que tinham redação livre.

Na faculdade achei que isso jamais fosse acontecer. Aconteceu. Achei que seria fácil. Não foi. Como? Quando criança inventávamos o mundo de fantasia, fazíamos textos magníficos, e hoje, anos depois, temos inúmeras coisas para contar, já vivemos e criamos muito, e o texto simplesmente não sai. O que era para ser tão fácil se tornou extremamente difícil, passei seis meses fazendo textos específicos, sobre política, globalização, modernismo, cultura. E quando me pedem para fazer um texto livre, parece que tenho um bloqueio. Queria entender.

Ainda no dilema que crônica escrevo...

Um dia desses um amigo disse que estava escrevendo um livro. Na inocência perguntei: “Sobre o que?”. Ele simplesmente disse: “Sobre o momento, escrevo sobre estar escrevendo, tipo ‘agora estou escrevendo, agora estou escrevendo novamente’, mais ou menos assim”. Ri e deixei passar. Hoje acordo com o meu desespero que já dura uma semana, e lembro desse “monólogo” do meu amigo, se eu fosse um desenho animado com certeza uma lâmpada acesa teria aparecido sobre minha cabeça. Por quê não escrever sobre isso tudo. Sobre esse “não sei sobre o que escrever”?

Eis assim que acabou surgindo essa “crônica sobre o quê?”.

Por Renata Losilla

chaverinho
Enviado por chaverinho em 06/05/2006
Reeditado em 12/11/2006
Código do texto: T151610