FALANDO MUITO E SOZINHA

Há muito tempo atrás eu e uma amiga descobrimos que eu falava muito, apesar de na adolescência um namorado já ter comentado isso. Mesmo nós não tendo muito tempo para conversa, de uma hora para outra começou a me chamar carinhosamente de “vitrola descontrolada”.
 
Primeiro beijo, primeiro namorado, eu tinha o direito de ficar nervosa. E se vocês não sabem, o que eu acho difícil, nós mulheres nessas situações, falamos muito. Mas também temos fama de arranjarmos desculpa para tudo, não é mesmo? E cá para nós, não temos essa fama à toa. Agora pode ter certeza que aquele que diz que não fala sozinho, está mentindo.
 
Conheço pessoas, e olha que não são atores, que ensaiam o que vão valar na frente do espelho sempre que têm uma oportunidadezinha e esperam ansiosamente por uma chance de ficarem a sós simplesmente para ter com quem desabafar. Se isso não é falar sozinho, não sei o que é.
 
Você que tem medo do que vão pensar ou vergonha de admitir, esqueça o preconceito e junte-se a nós, considerados, meio malucos por quem não quer “sair do armário” e comece a falar sozinho. Nesse momento pode se esconder, seja no quarto, na sala, na cozinha ou na área de serviço. Pois aconselho para aqueles que são novos nessa prática, que comecem devagar. Se você morar sozinho tudo bem, mas se morar com outras pessoas, espere que todas saiam de casa para começar a falar. Depois imagine que você está conversando com alguém, pode ser namorado, amigo, não importa. Solte a língua. Fale tudo aquilo que você segura há tempos, principalmente o que gostaria de ouvir você falando. Depois com essa arte mais aprimorada, verá que pode passar horas a fio conversando com você mesmo.
 
É uma terapia de custo zero e que te alivia de uma forma que nem imagina.  Como tudo tem o seu outro lado, é lógico que falar sozinho também tem o seu efeito colateral: você pode ficar viciado. Afinal, não existe melhor ouvinte no mundo do que você. Mas têm aqueles que perguntam e respondem, falam o seu próprio nome o tempo todo, ouve a pessoa imaginária responder e já passou da infância há anos e o amigo imaginário já foi cantar um outra freguesia, esse sim, pode internar que é maluco mesmo. 

Suzanna Petri Martins
Enviado por Suzanna Petri Martins em 19/04/2009
Reeditado em 19/04/2009
Código do texto: T1547644