Normal ou alienado?

Há alguns dias atrás, pudemos assistir com tristeza, a despedida de uma das maiores jogadoras de vôlei do nosso país e do mundo, a levantadora Fernanda Venturini, que tantas alegrias deu a este nosso povo. Merece todos os méritos e todas as homenagens, porém, uma frase que ela disse durante uma entrevista, me fez parar para pensar, pois acredito que ela traduziu o que a grande maioria dos brasileiros que tem o privilégio de possuir uma situação econômica estável, pensa. Ela disse que, de agora em diante, ao abandonar o esporte, poderá se dedicar a coisas que antes era impossível, como, por exemplo, tirar férias e passar uma semana inteira em uma pousada, “como fazem 90% das famílias”. Não é minha intenção criticar a Fernanda, aliás, sou seu fã, mas gostaria de convidar você, leitor, e a mim mesmo, para uma reflexão, pois, muitas vezes, vivemos fechados em nosso “mundo”, nosso círculo de amigos, nossa realidade, e esquecemos que, provavelmente, “90% das famílias do Brasil, NÃO tira férias, muito menos, vai para pousadas, que custam um valor alto. A situação social do Brasil, com tantas diferenças, se arrasta por tantos anos, que achamos normal uma grande parte da população viver em extrema pobreza, sem condições ter uma alimentação adequada, sem possibilidade de freqüentar uma escola, sem conseguir um emprego, enquanto temos três refeições diárias, vários agasalhos e cobertores, e uma diversidade de roupas e calçados, que usamos conforme a moda e a ocasião. Esse é um grande perigo, pois quando achamos isso normal e não nos causa mais indignação, deixamos de trabalhar para diminuir essa diferença tão grande, entre aqueles que muito tem e aqueles que tem quase nada.

Esse é o meu alerta. Se não fizermos algo para mudar a situação social em que o país vive, 90% da população não terá dinheiro para passar sequer um dia de sua vida em uma pousada, muito menos, uma semana a cada ano.

Fernanda, muito obrigado por tantas alegrias que você deu ao Brasil, com suas jogadas geniais, incentivando a prática esportiva, meio bastante eficaz de tirar as crianças da rua e proporcioná-las oportunidade de crescerem com dignidade.

Valeu, menina!

Délcio Mores
Enviado por Délcio Mores em 18/05/2006
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