Macacos me Mordam

Macacos me mordam

O artigo da credenciada revista britânica Nature,apontando que homens e chimpanzés teriam transado há pelo menos quatro milhões de anos, promete causar um certo frisson na comunidade científica americana que não costuma ver com bons olhos essas orgias de hibridização, podendo vir a exigir dos responsáveis os seguros testes de DNA. Mas é também possível, ou mesmo provável, que membros da Academia evitem o espelho como medida profilática ao vaticínio de Nietzsche.

Tanto tempo depois, a pergunta do Bispo Wilberforce ao darwinista Thomas Huxley, sobre se este descenderia do macaco por parte de sua avó ou de seu avô, não se afiguraria tão estapafúrdia.

A verdade é que o referido artigo não chegou a causar-me nenhum espanto. Ou surpresa. Em meu tempo de garoto, lá em Marechal Hermes – e para lembrá-lo não preciso recorrer ao relógio ortomolecular que nos remonta ao Big-bang -, em épocas de vacas magras, os meninos mais afoitos tinham lá suas cabras e galinhas de estimação. E o Joca que o diga! Se até a égua do velho Cachimbal tinha-lhe um olhar cheio de languidez, imaginem uma chimpanzé de circo dedicando-lhe uma piscada de olho ou um sorriso maroto de concupiscência!

O artigo cumpre o seu papel. As descobertas sugerem que os intercursos peduraram mesmo depois das duas espécies terem iniciado a separação evolutiva, atitude demonstrativa de uma fidelidade canina. Mais que isso, põe em xeque o status dos australopitecíneos de terem sido os primeiros e únicos ancestrais do Homo Sapiens. E se for assim, o que é que tem? Em algum recanto da África distante estarão as pegadas de Laetoli, o olho insepulto de Lucy e as mãos delicadas da paciente Chita, bordando o enxoval para o filho de Tarzan.

Aldo Guerra

RO,21/05/06

Aldo Guerra
Enviado por Aldo Guerra em 21/05/2006
Código do texto: T160132