Tragédia na Piscina

Tragédia na Piscina

Era o mês de dezembro. Início de férias, véspera de Natal de 2001.

Nóia chegou cansada. Fizera uma viagem de mais de mil quilômetros, de ônibus, uma viagem longa, cansativa e cheia de muito sofrimento.

A mais nova integrante da família fez baldeação em Salvador e chegou à hospitaleira cidade de Brumado, numa luminosa manhã de sol..

É que Nóia é sergipana. Nasceu por lá, de pais sergipanos e, com seu amigo Fabrício que terminou seus estudos na capital, diplomando-se em Farmácia, veio morar aqui.

Apesar de uma permissão para que Nóia viesse, houve um susto logo que eles chegaram, porque pensávamos que a amiga do nosso filho fosse daquelas gracinhas meigas e dengosas, de cabelos cacheados e que fazem carinhas manhosas ao aproximar-se da gente. Mas não. Nóia era forte, determinada e não fazia manhas. Independente e tranqüila, vivia o seu mundo.

O convívio conosco fê-la dócil e, em pouco tempo, ficou nossa amiga, uma amiga carinhosa, de olhar piedoso e temperamento calmo. Parecia carente. Teria saudade de seus pais?

Cresceu depressa, ficou moça e, um dia, entrou no cio. Foi visitá-la um amigo de porte garboso, temperamento irrequieto e, naturalmente, mais velho do que ela. Nesse encontro, amaram-se durante toda a tarde. À noite, o amigo foi para casa e Nóia ficou feliz.

Passados alguns dias, começamos a notar que ela estava ficando mais gorda. Os dias se passavam e era visível o quanto nossa amiga aumentava de peso. Alimentava-se muito bem. Estava feliz e carregava o peso da barriga, com suas tetas cheias de leite.

Um dia, precisamente dois meses após o encontro amoroso, Nóia entrou em dores de parto. E o seu amigo, seu dono, também foi seu “médico”. Não se afastou dela um só minuto. Acompanhou o nascimento, um por um, de oito filhotes: quatro machos e quatro fêmeas. Eram lindos! Uns pretos e brancos, uns marrons e brancos, uma cor de mel, outra preta com uma mancha branca no peito. Uma beleza! E, a cada nascimento, Fabrício nos avisava: nasceram mais dois, nasceu um, mais um, mais um, até que às 24:00 horas, nasceu o último, completando oito filhotes.

Era uma alegria ver a nossa amiga deitada, amamentando seus filhinhos. Eles mamavam numa ânsia louca, trocando de peito aos segundos. O interessante é que entre eles havia os mais espertos, aqueles que nasceram maiores. Sugavam mais da mãe e passavam os menores pra trás.

Decorridos alguns dias, eles começaram a movimentar-se, ainda com os olhos fechados. Espertinhos, já saíam pela grade do canil, até que um dia... Ah! Que dia! Esqueceram de fechar o portão que dá para uma área de lazer... e os danadinhos, mal clareava o dia, saíram um por um, caminhando em direção a essa área, certamente acompanhando a mãe. E essa caminhada, a primeira de suas vidas, foi uma caminhada sem volta. Por não enxergarem ainda o suficiente, os filhotes, exceto um que fora presenteado a um amigo, caíram na piscina. Era madrugada e não se sabe qual o comportamento da mãe nessa hora. Deve ter ficado desesperada...

Havia uma cadelinha, a cor de mel cujo nome era Marta, que estava debaixo de uma cadeira, imóvel... Mais adiante, outra, mexia-se muito pouco. Chamava-se Bang.

O desfecho, você, caro leitor, pode imaginar.

Eu, particularmente, avisada pela minha secretária quando tomava o café da manhã, não quis ver cena tão triste! Três filhotes já estavam no fundo da piscina, dois boiavam...

E qual não foi a dor de Fabrício ao tirá-los mortos dali,sob o olhar triste e petrificado da cadela que, movida pelo instinto materno, ainda retirara dois filhotes da água fria: Marta e Bang. A nossa amiguinha Marta não resistiu e morreu logo. Bang sobreviveu, com muitos cuidados.

E o que restou dessa história que chamei de “tragédia” foi um sofrimento de dor e saudade daquelas pequenas criaturas que já amávamos.

Não sei se é coincidência, mas Nóia ficou traumatizada. Não pode ver ninguém entrar na piscina. Começa a latir muito agitada, andando de um a outro lado, como se recordasse daquele dia fatídico.

Então, falamos para acalmá-la:

-Pára, Nóia! Pára!...

E as águas azuis da piscina continuam trazendo à nossa lembrança, a tristeza daquele dia em que seis filhotes de “Pit-Bull” deram o seu primeiro e último mergulho...