AH, SE MEU TRAVESSEIRO FALASSE...

Mais uma noite em que fui plenamente mulher!

Deixei de lado todas as convenções, me joguei na cama e naquele momento em desespero busquei a meu companheiro, a muito a me esperar. Estreitada a ele me desafoguei, gritei e até xinguei – que louca, quantos impropérios!

Meu companheiro ali, maleável deixando-me toda à vontade.

Meu desvario foi tanto, até o joguei da cama. Arrependida, fui ao seu encontro e o tomei nos braços, trazendo-o outra vez para junto de mim. Igual, a muitas outras vezes o mordi, e quase o estraçalhei!

Extenuaram-se minhas forças, minha cama, eu e meus pensamentos em desalinho!

Busquei, manhosa, aconchego junto ao meu memorável companheiro de cama, o encharquei!

Minhas copiosas lágrimas foram uma a uma sorvidas pelo meu nobre companheiro, que as filtrava deixando a superfície confortavelmente tíbia, onde repousava minha cabeça atormentada pelos percalços do dia. Aos poucos minha mente foi serenando e recolocando os pensamentos nos seus devidos lugares.

No silêncio do quarto eu me colava mais e mais àquele fiel companheiro. Que parecia dizer ao meu ouvido com voz de alcova: "Acalma-te nina, mas, se queres ser plenamente mulher, chora, grita e pode mesmo até xingar”.

Ah, meu querido travesseiro lembro-me bem do dia em que te comprei!

E seguramente tu te lembras do meu primeiro surto de mulher!

Ah, se meu travesseiro falasse...

Melhor não!

Como os do gênero masculino ele também, não me escutaria,

E nas noites em que a vontade de chorar não dá pra aguentar, por suposto do quarto sairia!

Cláudia Célia Lima do Nascimento
Enviado por Cláudia Célia Lima do Nascimento em 10/07/2009
Reeditado em 16/07/2009
Código do texto: T1693315
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