A RECOMPENSA

A RECOMPENSA

Crônica de Maurício Marzullo

Ontem, pela manhã (o passado é sempre Ontem!), minha senhora trouxe-me a ver, enfiados na falangeta do dedo mínimo, dois aneizinhos de minha filha, presente do terceiro aniversário desta.

O objetivo era o de mostrar-me a coincidente semelhança havida entre as duas jóias, posto que uma era verdadeira, e a outra, falsa.

Despreocupadamente, sem espírito de análise, não dei pela coisa, achando, apenas, num relance, que eram muito bonitinhas, tal como fazem algumas pessoas ao considerarem certos fatos da vida.

Minha senhora, então, notando que eu nada percebera, chamou-me a atenção para o caso, estabelecendo um confronto entre ambas.

Nesta altura, eu até já achava que a falsa é que era a verdadeira, pois, na realidade, a sua pedrinha, de um azul turquesa, resplandecia muito mais que a da outra, como o céu de uma noite de luar!

Dando pela história, ao ver a falsa naquela opulência, ostentando um mundo que não era seu, e uma felicidade, que não era sua, tive dúvidas: corri a corrigir-me a mim mesmo:

Pus o anelzinho falso no dedo de minha filha, que o quebrou em dois instantes, e o verdadeiro, no “prego”!

Vi-me “recompensado”...

Publicado na revista O Espeto, p. 6, Rio, 15 de setembro de 1947.

[Maurício Marzullo, advogado e poeta.

*1915 – 2008]

[Maurício Marzullo era tio de Nelson Marzullo Tangerini]

Arquivo família Marzullo-Tangerini:

nmtangerini@gmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br

http://narzullo-tangerini.blogspot.com/

http://nelsonmarzullotangerini.blogspot.com/

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 17/07/2009
Código do texto: T1705275