60 Minutos

A caminho de casa, entro na lanchonete do vinhais,

Para levar alguns salgados. Não resisto e antes de ir acabo sentando e

deliciando-me de um belo bolo de chocolate, enquanto a chuva passa.

Exatas 21:00hs , segunda-feira, pouco movimento. Gente vindo do trabalho...

comprando alguns doces, outros tantos na entrada se protegem

da cortina branca que se fez a chuva.

Penso em como ir pra casa, imagino minha cama quentinha, agora mesmo enquanto como, rapidamente olho para os lados e por acaso olho pra trás pelo vidro do outro lado da rua, um garoto de mais ou menos seis anos na chuva estacionando os carros... Por espanto distanciei o olhar por alguns

instantes, devido ao chilique de uma senhora da segunda mesa à minha frente parecia ser bem apresentável, usando saltos finos com barulho meio irritante,envolta de sacolas de compras. Reclamava impiedosamente do suco, do doce,

... Pede pra falar com o responsável do estabelecimento, e todos quietos ouvindo-a com ar de acusação falar sobre o atendente, teria ele, segundo ela , por várias vezes deixado um marginal entrar e escolher o que comer,instigava o proprietário por alertar o perigo que correra se voltasse a acontecer, por respeito as pessoas de bem que consumiam ali.

Lembrei-me novamente do garoto e virei para olhá-lo agachado no meio fio entre um carro e outro envolvia os braços segurando as pernas, pensei no meu sobrinho de idade aparente, não conseguia imaginar como uma criança pode não ser querida como aquele na chuva. Voltei apegar a xícara mas não levei a boca, nada mais descia não conseguia esquecê-lo, por cinco segundos virei novamente, o garoto era conduzido por uma alma gentil, vinham em minha direção pouco depois entram na lanchonete...

molhado, sujo, com chinelos novos amparando seus pés enlameados.

Entre a solução da discussão a senhora apontou o menino referindo-se ao marginal que tanto falava. Nesse instante todos assistiam atentos.

Com olhar de medo, entre palavras prevendo um choro pela ofensa, o garoto afirmava que nunca roubara uma moeda...

rapidamente a mulher que o conduziu tomou partido da conversa.Ela trabalhava próximo e sempre que possível comprava uns agrados desde que o viu, na ultima vez deixou

além da conta com o atendente que já o conhecia para que retirasse algo sempre que a fome apertar.

A senhora pegou suas sacolas e retirou-se achando tudo aquilo tudo um absurdo.

Enquanto isso o garoto comia seu mixto com chocolate quente, a fome era maior perto do preconceito que ele não entendia.

O proprietário avisou-lhe que após o término do lanche se retirasse. O garoto começou a comer devagar, vendo que a chuva ainda caia, agora seco, não queria se molhar.

De repente alguém do meu lado, ou precisamente um senhor de seus 60 anos deixa escapar uma lágrima devido o episódio, tirou R$10,00 da carteira e levou ao garoto, este agradeceu envolvendo com outros tantos amassados,guardou dentro do bolso, levantou-se e voltou a chuva já fina correndo a procura de um lugar seco.

Eu totalmente desprevenida assistir a tudo calada, constatando que a situação do garoto não mudou mas entre aproximadamente trinta consumidores e curiosos que estavam no local, apenas dois fizeram sua parte.

O garoto por hoje dorme sem fome.

cristiana Lima
Enviado por cristiana Lima em 11/06/2006
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